História: Colonização e Sagas | Islândia Brasil


HISTÓRIA

COLONIZAÇÃO E SAGAS

Colonização (870-930)


A Islândia permaneceu inabitada por muito mais tempo do que a maioria dos lugares habitáveis na Terra. Não foi até a Era Viking, que começou por volta do ano 800 d.C., que homens nórdicos começaram a construir navios que poderiam os levar pelo Atlântico Norte com certa chance de sobrevivência. O primeiro historiador da Islândia, Ari Þorgilsson o Sábio, diz o Íslendingabók (o Livro dos Islandeses), escrito 200 anos após a colonização, que a ilha foi colonizada em um período de seis décadas, de cerca de 870 a 930 d.C. Essa época é conhecida na Islândia como a Era da Colonização. Ari não menciona datas específicas; quando os islandeses celebraram o aniversário da colonização em 1874 e novamente em 1974, foi baseado em uma data dada em trabalho histórico posterior, Landnámabók (o Livro das Colônias), por um historiador menos cauteloso que Ari.

(Em 1957-1962 os restos de cinco navios da Era Viking foram escavados no fiorde Roskilde na Dinamarca. Um deles acredita-se ser um knörr, similar àqueles usados nas jornadas para a Islândia, a partir da Noruega. Na foto vê-se o exemplo de um knörr.)

Bem antes disso, uma ilha chamada Thule, onde o sol brilhava por toda a noite no verão, era conhecida nos tratados europeus de geografia; alguns desses relatos são consistentes com a Islândia. Fontes islandesas medievais também dizem que havia monges irlandeses vivendo na Islândia quando os nórdicos chegaram.

Dúvidas foram colocadas sobre a questão que uma ilha tão grande como a Islândia tenha permanecido inabitada por tanto tempo, e hipóteses foram levantadas de que pessoas viviam na Islândia há muito tempo antes de os nórdicos chegarem. Tais teorias, entretanto, recentemente encontraram um revés. Pesquisas arqueológicas revelaram que muitas das mais antigas cidades da Islândia estão perto de uma camada de cinzas vulcânicas que cobre grande parte da ilha, conhecida como a Camada da Colonização. Em 1995, traços desta mesma camada foram encontrados nos núcleos de gelo da Geleira da Groenlândia, que podem ser datados de um ano ou dois do ano 871. Essa data é impressionantemente consistente com as provas de Ari o Sábio.

De acordo com Ari e o Livro das Colonizações, o primeiro colono nórdico permanente na Islândia foi Ingólfur Arnarson, que se estabeleceu em Reykjavík, onde a capital da Islândia iria crescer muitos séculos depois. A esposa de Ingólfur se chamava Hallveig, e alguns islandeses conseguem traçar sua descendência diretamente desses primeiros dois colonos. O Livro das Colonizações fala de vários homens que haviam achado e explorado a Islândia antes de Ingólfur, e um deles supostamente deu à Islândia seu nome gelado (em islandês o país se chama Ísland, ou seja "terra do gelo").

(Ingólfur Arnarson, que era, de acordo com fontes, o primeiro colono permanente na Islândia, fez sua casa em Reykjavík. Nove séculos depois, a primeira comunidade urbana na Islândia cresceu no mesmo local, e evoluiu para ser a capital da Islândia. A escolha de Reykjavík como capital, até onde se sabe, não tem nenhuma ligação com seu papel histórico.)

O Livro das Colonizações menciona mais de 400 colonos e os lugares onde se estabeleceram ao redor do país. A maioria era da costa oeste da Noruega, mas muitos haviam vivido por um tempo em colônias Viking nas ilhas britânicas. Alguns também vieram de outras partes da Escandinávia, e alguns poucos eram de origem irlandesa. Os colonos nórdicos vieram acompanhados de escravos, e talvez esposas, de origem celta; a maioria dos colonos nomeados eram homens, mas não todos. A população da Islândia deve ter sido miscigenada, apesar da maioria ser de origem nórdica, como visto por suas construções, pelos bens enterrados com eles e pelo idioma da Islândia medieval.

Na época da colonização da Islândia, Harald Fairhair estava unificando a Noruega em um único reino, e de acordo com o Livro das Colonizações muitos dos colonos eram magnatas noruegueses que haviam fugido do comando do rei. Os costumes no modo de enterrar dos colonos, e outros remanescentes do início do período da colonização indicam, entretanto, que a maioria dos colonizadores islandeses eram fazendeiros comuns que provavelmente deixaram a Noruega.

Antiga Confederação (930-1262)


É um costume ancestral o de homens livres de reunirem, de modo a tomarem importantes decisões. Na Era Viking este era o costume por toda a Escandinávia, e assembleias foram fundadas em todas as colônias nórdicas em torno do Atlântico norte.

Os islandeses estabeleceram sua assembleia ao final da Era da Colonização, de acordo com Ari o Sábio. Mais tarde este fato foi interpretado como tendo acontecido no ano 930. A assembleia, Alþingi, se encontrava em Þingvellir. O mais antigo código de leis islandês, Grágás (Ganso Cinza), provê informações sobre o Alþingi, bem como muitas das sagas.

O Alþingi (parlamento) era atendido por goðar (chefes com autoridade sobre um certo goðorð ou grupo de fazendeiros), que pela lei deveriam ser 36, 39 ou até mesmo 48. Esses chefes poderiam requerer cada nono fazendeiro sujeito a suas autoridades a atender à sessão com eles. Se os fazendeiros independentes no país fossem em número de 4.500, isso significava que pelo menos 500 homens iriam atender ao parlamento. Além disso, as sessões do parlamento eram ocasiões sociais que atraíam tanto homens quanto mulheres, e os jovens algumas vezes usavam a ocasião para procurar por um parceiro adequado.

(Þingvellir. Nessas planícies é que ficava o Lögrétta - Conselho Legal. É o berço da civilização organizada da Islândia.)

As sessões parlamentares eram presididas pelo Lögsögumaður (Orador da Lei), eleito para um mandato de três anos; uma de suas tarefas, nos tempos anteriores à língua escrita, era a de memorizar e recitar as leis da terra. No Alþingi, os chefes se sentavam no Lögrétta (Conselho Legal), o corpo legislativo, cada um acompanhado por dois conselheiros. Os chefes também indicavam fazendeiros para presidir as cortes, um para cada quarta parte do país, e uma Quinta Corte para lidar com casos que não podiam ser resolvidos nas cortes regionais.

Nas regiões, aconteciam assembleias de primavera. De acordo com uma regra escrita no Grágás, três chefes deveriam se reunir para uma assembleia de primavera; isso significava que existiam 13 assembleias de primavera no país, três em cada quadrante, mas quatro no Quadrante Norte, "porque eles não conseguiam chegar a um acordo sobre nada", de acordo com Ari. As assembleias de primavera eram primariamente judiciais em natureza; os chefes nomeavam fazendeiros para julgar casos que apareciam dentro do distrito.

(O Lögrétta. Os Goðar - chefes - sentavam na plataforma central; cada um possuía conselheiros que sentavam na frente e atrás deles. No centro ficava de pé o Orador da Lei, que presidia os procedimentos.)

Os chefes também conduziam leiðarþing ("assembleias de estrada") em seu retorno do parlamento, com o objetivo de promulgar novas leis e outras inovações.

Os fazendeiros sob autoridade de cada chefe eram chamados de seus þingmenn (homens do parlamento). Pela lei, eles tinham o direito de transferir sua fidelidade a outro chefe, e o chefe também poderia repudiar um de seus seguidores. O direito do fazendeiro de mudar fidelidade é algumas vezes comparado com o direito democrático moderno de votar. Sabe-se que alguns fazendeiros utilizaram esse direito, mas os chefes também deveriam ter tentado tirar do caminho fazendeiros locais os quais eles não confiavam, e deveria ser arriscado trocar de fidelidade. Nenhum desses direitos democráticos eram aplicáveis além das classes de fazendeiros homens.

O governo da Islândia era fraco, com as concomitantes vantagens e desvantagens. Os chefes tinham como alvo manter a lei e a ordem entre seus vassalos. Nenhum rei comandava o país, e nenhum poder existia para manter a paz, nenhum exército ou polícia. No século 19 este sistema veio a ficar conhecido como þjóðveldi, a palavra islandesa então usada para denotar uma república. Hoje þjóðveldi, que pode ser traduzida como Confederação, é usada somente para designar essa ordem social descentralizada que persistiu na Islândia por mais de três séculos.

Descobertas (980-1020)


(Na Groenlândia, os nórdicos viveram em duas comunidades separadas na costa oeste, Eystribyggð - Colônia Leste - e Vestribyggð - Colônia Oeste)

O progresso rumo ao Ocidente dos nórdicos na Era Viking não parou com a Islândia. Bem antes eles haviam observado uma outra terra mais longe ao oeste, e no final do século 10 um fazendeiro islandês que necessitava de um lugar para ir foi explorar lá. Nascido na Noruega, ele havia matado pessoas tanto em seu país natal e na Islândia, e fora expulso. Seu nome era Eiríkur Þorvaldsson, conhecido como Eiríkur (Erik) o Vermelho. Ele descobriu uma costa montanhosa com geleiras, velejou pela ponta sul, e finalmente encontrou terra habitável na costa oeste. Ele se estabeleceu nesta terra, a qual ele chamou de Groenlândia (em islandês, Grænland, ou seja, "terra verde"), com sua mulher, Þjóðhildur Jörundardóttir. Seu filho Leifur provavelmente nasceu antes que eles deixassem a Islândia. O estabelecimento se deu por volta de 985 d.C. de acordo com Ari o Sábio. Ele não menciona o fato de se os colonizadores sabiam de qualquer habitante indígena, apesar de eles terem encontrado sinais de uma ocupação anterior.

Pessoas de origem nórdica viveram na Groenlândia por quase cinco séculos. Ruínas de 330 fazendas foram encontradas, e a população total é estimada que tenha sido de 3 mil.

A descoberta de ainda mais terras mais distantes a oeste é contada em duas diferentes versões. De acordo com uma, Bjarni Herjólfsson, um islandês, foi levado para fora de curso quando navegava da Islândia para a Groenlândia, viu terras desconhecidas no oeste, mas não desembarcou. Seguindo suas instruções, Leifur ("Leif o Sortudo"), filho de Eiríkur o Vermelho, foi explorar essas terras. De acordo com a outra saga, o próprio Leifur chegou nas terras desconhecidas quando estava viajando da Noruega para a Groenlândia no ano 1000.

((A fazenda abandonada de Eiríksstaðir, em Haukadalur em Dalasýla, no oeste da Islândia, é onde se tradicionalmente acredita que Eiríkur o Vermelho morou antes de velejar para a Groenlândia. Ruínas de uma casa da Era Viking foram escavadas lá, presumivelmente o local de nascimento de Leifur Eiríksson. A foto mostra uma recriação da casa.)

As sagas são consistentes em mencionar três terras: a mais ao norte era Helluland (Terra das Placas), a próxima Markland (Terra da Madeira), e a terceira Vínland (Terra do Vinho), onde uvas selvagens e trigo auto-semeado cresciam. Esta terria pareceu ser um ótimo local para ser colonizado. A maior tentativa de colonização foi feita por Þorfinnur Þórðarson, conhecido como karlsefni, e sua esposa Guðríður Þorbjarnardóttir, na compania de várias dúzias de pessoas. Ambos de origem islandesa, eles fizeram sua expedição a partir da Groenlândia. Em Vínland, Guðríður deu à luz um filho, Snorri.

Os colonizadores logo entraram em contato com povos indígenas, chamados de skrælingjar nas sagas: eles eram provavelmente nativo-americanos e não Inuit. Inicialmente as relações foram pacíficas: os indígenas trocavam peles por laticínios. Então o conflito se deu; as sagas deixam a entender que foram os colonizadores que provocaram isso. Mas o conflito levou Þorfinnur e Guðríður a abandonarem sua tentativa de se estabelecerem. Isso marcou o fim do avanço em direção ao Ocidente dos nórdicos na Era Viking, no limiar de uma das mais férteis expansões de terra em todo o planeta.

(A técnica usada nas construções em L'Anse aux Meadows na Terra Nova claramente demonstra que elas foram feitas por nórdicos. Além disso, objetos foram encontrados no local que eram comuns nos países nórdicos na Era Viking, mas desconhecidos aos nativos da América do Norte, como um eixo para girar, pregos de ferro e o broche mostrado aqui.)

Em séculos posteriores, dúvidas foram colocadas sobre a veracidade da descoberta nórdica da América. Essas dúvidas foram silenciadas finalmente nos anos 1960, quando os noruegueses Helge Ingstad e sua esposa Anne Stine descobriram um sítio arqueológico em L'Anse aux Meadows na Terra Nova, Canadá. Este é um lugar muito frio para uvas, e hoje sabe-se que foi um ponto de parada na rota para Vínland, que deve ter sido localizada mais longe ao sul, talvez na vinzinhança da atual Nova York.

Cristianismo (999-1118)


Quando a Islândia foi colonizada, pouca influência cristã havia chegado à Escandinávia. Os primeiros colonizadores da Islândia adoravam os antigos deuses nórdicos, ou Æsir. Óðinn e Þór, Freyr, Frigg e Freyja. No século 13 o autor islandês Snorri Sturlusson fez uma coleção de mitologia nórdica em um livro conhecido como o Prose Edda. Esta é a mais extensa fonte em todos os lugares da religião dos povos germânicos nos tempos pré-cristãos, e também proporciona uma leitura prazeirosa, mas é difícil dizer onde a mitologia verdadeira dá espaço à imaginação do autor. Pouco se sabe das práticas pagãs na Islândia, mas o termo goði (chefe) é cognato com a palavra goð (deus), e de acordo com as sagas os chefes originalmente possuíam um gabinete religioso.

(Esta imagem de 7cm por muito tempo é acreditada como sendo a figura do deus nórdico Þór.)

Nas últimas décadas do século 10, os primeiros missionários cristãos foram para a Islândia; depois que um chefe Viking, Olaf Tryggvason, tinha tomado o poder na Noruega em 995, a missão começou a mostrar frutos. Um missionário enviado pelo rei Olaf batizou um chefe do sul da Islândia, Gissur Teitsson o Branco, que era parente do rei. Gissur e seu genro Hjalti Skeggjason comprometeram-se a induzir os islandeses a adotar o Cristianismo. Em 999 ou 1000 eles chegaram à Islândia vindos da Noruega, acompanhados por um padre estrangeiro. Chegando quando a sessão do Alþingi estava prestes a começar, eles foram para lá diretamente.

No parlamento, existiam duas facções, pagãos e cristãos, e era previsível que a Islândia iria dividir-se em duas áreas de jurisdição de acordo com a afiliação religiosa. Então a história conta que o Orador da Lei Þorgeir, chefe de Ljósavatn, um pagão, se comprometeu em fazer uma promessa que ambas as facções fossem aceitar. Ele foi para seu abrigo, deitou-se sob seu manto, e permaneceu lá até o dia seguinte, quando se adereçou à assembleia, ordenando uma promessa em antecipação de que seu compromisso seria aceito. Então ele proclamou uma lei dizendo que todos deveriam adotar a religião cristã. Mas seria, entretanto, permitido adorar aos deuses nórdicos de maneira discreta, comer carne de cavalo e expor as crianças ao nascerem. Então toda a companhia foi batizada como cristã.

(Crucifixo de Ufsir em Svarfaðardalur, norte da Islândia. Esculpido em bétula, acredita-se datar da primeira metade do século 12.)

Esta é, admissivelmente, uma história inacreditável, mas é a única que têm-se. E é claro que os islandeses adotaram o Cristianismo sem se submeterem à autoridade real, já que como regra o Cristianismo era forçado sobre povos conquistados por reis vitoriosos.

No século seguinte, os islandeses fundaram uma igreja cristã. O filho de Gissur o Branco, Ísleifur, treinado para o sacerdócio na Alemanha, e em 1056 ele foi consagrado Bispo da Islândia, residindo na propriedade de sua família, Skálholt, no sul da Islândia. Ele foi sucedido por seu filho, Gissur, que fez de Skálholt uma sede episcopal permanente. Em 1106 outro bispado foi fundado no norte, em Hólar. Durante o episcopado do Bispo Gissur (1082-1118), foi introduzido o dízimo; esta era um imposto pago na maior parte para a igreja, mas também parcialmente usado na ajuda aos pobres.

(Em Flatatunga, Skagafjörður, no norte da Islândia, esculturas de madeira do século 11 foram preservadas, que são claramente influenciadas pela arte eclesiástica bizantina. As esculturas, que provavelmente se originam da catedral medieval em Hólar, estão preservadas no Museu Nacional da Islândia.)

Na Islândia foi desenvolvido um sistema de igrejas de gestão privada. Chefes e fazendeiros individuais construíam igrejas e doavam a propriedade para elas, algumas vezes as propriedades onde viviam. Eles "gerenciavam" estas propriedades como se fossem suas próprias, e as passavam como herança a seus filhos. Este sistema persistiu em grande parte através do período da Confederação, e não foi totalmente extinto até os dias de hoje.

Sociedade Medieval (930-1300)


É impossível fazer uma estimativa razoável da população da Islândia até a época do bispo Gissur Ísleifsson em torno de 1100. Ele fez um censo de todos os fazendeiros auto-suficientes do país, e eles eram 4.560. Com base nisso, a população total foi estimada em 40 a 50 mil. Isso indica que a sociedade islandesa era grande, em comparação com os números de séculos recentes. Em 1100, a população da Noruega não poderia ser mais do que sete vezes maior que a da Islândia, mas já nos dias de hoje há 17 vezes mais pessoas na Noruega do que na Islândia.

(Planta de Stöng, uma casa de fazenda do período da Antiga Confederação. 1: Entrada. 2: Casa, onde os habitantes sentavam-se ao final da tarde e dormiam à noite. 3: Stofa, um quarto usado, por exemplo, para as mulheres trabalharem. 4: Despensa. 5: Latrina. Os islandeses da Antiga Confederação construíam casas grandes que requeriam enormes quantidades de madeira, como se eles não tivessem se adaptado ao fato de que tinham se estabelecido em uma terra com poucas árvores. Algumas pessoas dizem que tais construções eram feitas para não mais que dez pessoas, e se esse for o caso existiam em torno de 5 mil fazendas e 50 mil habitantes no país.)

Todos os islandeses viviam em fazendas. Nenhuma cidade se desenvolveu na Islândia na Idade Média. A pescaria acontecia em fazendas na costa, e também de estações sazonais de pescaria quando peixes, especialmente bacalhau, vinham para o litoral. Plantações de cereais eram cultivadas na Islândia na Idade Média, principalmente no sul, mas a criação de animais (gado e ovelhas) era a principal atividade. Ambos produziam carne, e leite para queijo e skyr (coalhada), e a lã da ovelha era transformada em vestes, as quais eram a principal matéria de exportação da Islândia até o século 14. O modo de vida islandês é bem ilustrado pelas unidades de valor usadas: alin vaðmáls (uma vara, de mais ou menos 50cm, de tecido de lã), kúgildi (o valor de uma vaca), equivalente a 120 varas, e subsequentemente fiksur (peixe), equivalente a meia vara.

O cavalo era principalmente usado para transporte. (Depois que a liberação da ingestão de carne de cavalo mencionada anteriormente foi abolida no século 11, cavalos não eram mais uma fonte de alimento.) Carroças eram quase desconhecidas, entretanto, e a Islândia não possuía estradas, exceto por trilhas gradualmente feitas pelos cascos de cavalos, gado e ovelhas. Cavalos eram necessários, tanto para carregar as pessoas e como animais de carga, e um bom cavalo era sempre o orgulho e felicidade de seu mestre.

Nos primeiros anos da história da Islândia, uma clara divisão existia entre os livres e os não-livres. O número de escravos talvez nunca tenha sido grande, mas ambos escravos e escravas são frequentemente mencionados nas sagas. Quando sua origem é especificada, dizem que eles foram capturados em invasões Viking nas Ilhas Britânicas. A escravidão nunca foi abolida na Islândia, mas escravos não são mencionados depois que fontes contemporâneas se tornaram disponíveis no século 12.

(Foto: em Keldur em Rangárvellir, onde Steinvör Sighvatsdóttir viveu durante a Era Sturlung, uma casa de campo sobreviveu, a qual acredita-se ser essencialmente da Idade Média, e assim sendo, a construção mais antiga da Islândia. Casas de relva são, admissivelmente, construídas por métodos que requerem constante renovação, então pode se tornar difícil dizer a época de uma construção específica, mas a forma e localização da casa em Keldur sem dúvida data da Idade Média. Dessa forma pode-se dizer que Steinvör passou por essa porta.)

Uma outra clara divisão existia, entre homens e mulheres. Mulheres não faziam parte do governo. Elas podiam ter autoridade sobre um grupo de fazendeiros em um goðorð, mas elas tinham que indicar um homem para fazer seus trabalhos, e elas não eram indicadas para trabalhar nas cortes. As sagas, entretanto, falam de várias mulheres cujas qualidades e caráter pessoais as fez ter tanto respeito quanto qualquer homem. No século 13, Steinvör Sighvatsdóttir, filha de um chefe, viveu em Keldur, no sul da Islândia. Em uma ocasião ela foi indicada, junto com o bispo de Skálholt, a ser árbitro em uma disputa; se eles não concordassem, Steinvör sozinha deveria decidir.

Ainda outra distinção aparece tão cedo já nas leis da Confederação, que persistiriam pela história islandesa. A classe dominante queria dividir a Islândia em dois tipos de pessoas: fazendeiros e suas esposas, e trabalhadores sem terra que eram contratados por ano para trabalharem para fazendeiros, e viviam em suas casas. Grandes esforços foram feitos para prevenir o surgimento de duas outras classes sociais: trabalhadores casuais que vendiam sua força de trabalho para quem pagasse mais a qualquer estação, e donos de casa que residiam à beira-mar, vivendo da pesca, que não possuíam nem terras nem animais.

Sagas (1120-1350)


Assim como outras nações cristãs da Europa na Idade Média, os islandeses aprenderam a ler em latim e costumavam escrever livros em pergaminho fino. Mas a igreja islandesa costumava falar mais do que outras igrejas europeias; a cultura eclesiástica estava mais perto da cultura do povo. Muitos chefes se tornaram padres cristãos, e mais foi escrito na língua do país, o nórdico antigo, e menos em latim como era a regra na Europa.

Talvez isso possa ser atribuído ao fato de que os líderes da sociedade islandesa também eram "padres" da religião pagã, e eles mesmos decidiram fazer do "Cristo branco" seu deus ao invés de Þór ou Freyr. E ainda mais, a Islândia não tinha oficiais reais para forçar lei e ordem à sociedade. Assim, os islandeses ficaram preocupados com a questão de como o conflito seria contido, mas sem condenar a prerrogativa de um indivíduo de defender sua honra e a de sua família pela vingança de sangue. Daí vem o interesse perene que tinham em histórias de pessoas que obtiveram sucesso, ou falharam, em preservar a paz; material era juntado para contar histórias, formando a base das sagas escritas em pergaminho nos séculos 13 e 14.

(Möðruvallabók - o livro de Möðruvellir - é o maior dos manuscritos das sagas de família islandeses, contendo 11 sagas em 189 folhas. O livro está preservado no Instituto de Manuscritos Árni Magnússon em Reykjavík.)

A escrita da saga islandesa começou com histórias das origens da nação, no Livro dos Islandeses de Ari o Sábio e a versão mais antiga do Livro das Colonizações, aos quais adições foram feitas em versões posteriores. No século 12, os islandeses também começaram a escrever sagas de reis, especialmente reis da Noruega, mas também da Dinamarca. Esta forma literária atingiu seu auge no século 13 com a saga de Snorri Sturlusson, Heimskringla (Esfera do Mundo), uma história dos reis da Noruega.

As sagas dos islandeses ou sagas de família começaram a ser escritas no final do século 12 ou início do século 13. Estas são as mais distintas formas de literatura islandesa, porque os heróis da maioria das histórias são personagens de fazendas islandesas. Os eventos das sagas acontecem em maior parte no período entre os anos 930 a 1030; eles recontam, em termos muito realísticos para os padrões medievais, contos de conflito e acordos de paz, amor e ambições frustradas. Escritos em forma de prosa, as sagas utilizam uma técnica narrativa que faz lembrar o romance moderno. Os acontecimentos são encenados, os personagens falam em discurso direto, e seus pensamentos são deduzíveis por seu comportamento exterior, raramente por uma descrição direta. As Sagas dos Islandeses são a maior categoria de sagas, em torno de 40, em adição a pequenas histórias (þættir). Nenhum autor de uma saga islandesa é identificado por nome, mas estudiosos tentaram descobrir alguns dos autores entre chefes do século 13.

(Os pergaminhos manuscritos islandeses normalmente continham belas letras maiúsculas iniciais desenhadas nas margens. Esta é uma página do maios dos manuscritos, Flateyjarbók - o Livro Flatey. Ele contém 225 folhas, as quais poderiam ter requerido o couro de 113 bezerros. O conteúdo do livro é em sua maioria sagas de reis. No século 17 o Livro Flatey foi presenteado ao Rei da Dinamarca, e foi preservado na Biblioteca Real de Copenhagen até ser devolvido à Islândia em 1971. Este foi o primeiro de dois livros mandados de volta à Islândia, quando os dinamarqueses devolveram todos os manuscritos islandeses em sua posse cujo conteúdo havia sido definido como relevante à herança cultural islandesa.)

Os islandeses também escreveram sagas de outros tipos, as quais são tidas como menos memoráveis. Sagas de bispos foram escritas em alguns casos com o motivo de apoiar uma candidatura para a Santa Sé para acreditar a santidade de certos bispos islandeses; ainda assim essas sagas sobrevivem quase que exclusivamente em nórdico antigo e não em latim. Sagas contemporâneas seculares lidam em sua maior parte com eventos entre chefes islandeses nos séculos 12 e 13; a maioria dessas estão preservadas na compilação Sturlunga Saga, que foi juntada no início do século 14. Sagas de tempos remotos contam de reis e heróis da Escandinávia pré-histórica, antes do advento dos reinos nórdicos e da Era Viking. Os islandeses também traduziram vários títulos de literatura europeia, como hagiografias (vidas de santos) e Sagas de Cavalaria (traduções em prosa das francesas chansons de geste e outros livros europeus), e escreveram seus próprios pastiches no mesmo estilo.

Fim da Confederação (1180-1264)


Diferentemente de um membro moderno de parlamento, um chefe poderia ter controle sobre mais de um goðorð. Na segunda metade do século 12, havia uma crescente tendência de mais de um goðorð pertencer ao mesmo homem. As sagas mencionam um goðorð sendo dado a um homem que já possuía um. Algumas pessoas que herdaram um goðorð parecem não ter quisto ele (tanto quanto nem todos de nós queremos nos sentar num parlamento hoje), enquanto alguns se provaram incapazes de prover a seus vassalos a proteção esperada por eles. Esta tendência continuou, até o início do século 13 quando a maior parte do país havia ficado concentrada na mão de oito magnatas. Em adição a isso, alguns deles eram parentes próximos, então praticamente cinco famílias ou clãs comandavam o país.

(Domínios dos principais magnatas na primeira metade do século 13. Oito magnatas controlavam a maior parte do país, todos deles de cinco clãs principais.)

E ao mesmo tempo, o conflito se intensificou. Aconteceram mais batalhas, com mais forças numerosas, e eles viajavam maiores distâncias para fazer guerra. Isto pode ter sido parcialmente uma consequência da concentração do poder: os magnatas poderiam levantar maiores forças de fazendeiros dentre seus seguidores, e eles tinham que viajar mais longe para o território do próximo magnata. Outro fator contributivo pode ter sido a influência do rei da Noruega. Nessa época, o poder real estava em ascendência na Noruega após um prolongado período de discórdia e guerra civil. Em 1217 o rei Hakon Hakonson sucedeu ao trono; ele iria reinar, pela maior parte do tempo em paz, até 1263. O rei parecia ter ganhado controle de todas as terras do Atlântico Norte habitadas por povos nórdicos.

Este período de contendas internas entre magnatas e a tentativa real de tomar posse da Islândia é conhecido como a Era Sturlung, em referência a um dos clãs de magnatas. A data precisa da Era Sturlung varia, mas é lógico datá-la de quando as fontes primeiramente mencionam planos da coroa norueguesa de tomar o controle da Islândia, por volta de 1220. Foi quando um chefe islandês do clã Sturlung, Snorri Sturluson, deixou a Noruega em direção à Islândia, tendo se comprometido a tomar a Islândia para o rei.

Snorri, admissivelmente, nunca cumpriu essa promessa, e uma fonte diz que ele nem sequer tentou com muito afinco. Mas quinze anos depois outro membro dos Sturlungs se comprometeu à mesma tarefa. Era o sobrinho de Snorri, Sturla Sighvatsson. Sturla lançou uma campanha de ataques sobre outros magnatas, com o objetivo de induzi-los a fugir para a Noruega, onde o rei iria os forçar a abdicar de seus poderes. Mas a campanha de Sturla chegou ao fim na Batalha de Örlygsstaðir no norte da Islândia, em 21 de agosto de 1238. Sturla e seu pai, Sighvatur, lideraram uma força de várias centenas, talvez de até mil, contra aproximadamente 1.700 homens liderados pelo magnata da região, Kolbeinn Arnórsson o Jovem, e Gissur Þorvaldsson do sul, um descendente de Gissur o Branco. Tanto Sturla quanto Sighvatur morreram na batalha, juntamente com 50 de seus apoiadores; seus oponentes perderam somente sete homens.

(A pintura de Jóhannes Geir, Incursão Militar em Skagafjörður, pode ser uma referência à batalha de Örlygsstaðir de 1238, ou outra batalha em Haugsnes em 1246, que custou cerca de cem vidas.)

Nos anos seguintes o conflito continuou; dentre aqueles que morreram estava o chefe e gênio literário Snorri Sturluson, em 1241. Em 1258 o rei enviou Gissur, o vitorioso de Örlygsstaðir, de volta para casa à Islândia, com o título de jarl (conde) da Islândia. Ele sucedeu em 1262 em induzir os chefes e representantes de fazendeiros no norte, oeste e sul da Islândia a jurarem lealdade ao rei e a se submeterem a pagarem impostos a ele no futuro. Nos próximos dois anos o mesmo cometimento foi dado pelos Fiordes do Leste e pela região sudeste da Islândia. A Islândia havia se tornado uma terra tributária do Rei da Noruega.