Quando a Islândia se tornou um domínio norueguês, a própria Noruega ainda era compreendida em três ou quatro regiões jurisdicionais, cada uma com suas próprias leis. Em adição a isso, outros domínios estavam sujeitos à Coroa: as Ilhas Orkney e Shetland eram um condado do rei, e as Ilhas Faroé também eram um território tributário do rei desde o século 11. Os groenlandeses se submeteram à autoridade real antes dos islandeses. O rei Hakon morreu em 1263 nas Ilhas Orkney, em uma campanha para garantir a autoridade real sobre as Hébridas e sobre a Ilha de Man.
O filho de Hakon, seu sucessor Magnus, conhecido como o Reformador da Lei, abandonou sua reivindicação sobre as Hébridas e sobre a Ilha de Man. Ao invés disso ele priorizou a consolidação do próprio Reino da Noruega. Ele revisou as leis da nação duas vezes, de modo que todas as partes da Noruega estivessem sujeitas essencialmente às mesmas leis, à época que ele morreu, em 1280.
(Quadro: o sistema de governo da Islândia sob o domínio norueguês e depois dinamarquês, até o final do século 17. A Islândia possuía seu próprio sistema de governo, e a grande maioria de seus oficiais eram islandeses.)
Os islandeses também receberam dois novos códigos legais durante o reinado de Magnus. Em 1271 o rei enviou à Islândia um novo código legal conhecido como Járnsíða (Lado de Ferro), seguido de um outro livro que leva o nome de seu autor principal, Jón Einarsson, Jónsbók (Livro de Jón). Mas, ao contrário das evoluções na Noruega, essa segunda revisão levou a Islândia para mais longe da conformidade com a lei norueguesa. O Jónsbók foi admissivelmente baseado em grande parte na lei norueguesa, mas foi desenvolvido somente para a Islândia, e permaneceu com força vigente por quatro a cinco séculos, enquanto a lei norueguesa passou por muitas revisões. O Jónsbók, no entanto, fez da Islândia uma área jurisdicional separada sob domínio real.
O sistema de governo da Islândia foi radicalmente alterado pelo Járnsíða e pelo Jónsbók. O Alþingi continuou a se reunir, mas o Conselho Legal, que havia sido um corpo legislativo, se tornou primariamente uma corte legal. As quatro cortes regionais, a Quinta Corte e as assembleias de primavera foram abolidas; novos oficiais, lögmenn (homens da lei) esýlumenn (comissários de distrito) presidiam os procedimentos das cortes regionais conforme requeridos.
(Um livro francês de brasões de em torno de 1280 diz que este é o elmo do "Rei da Islândia". A hipótese proposta é de que esse era o elmo de Gissur Þorvaldsson, que foi o primeiro e único jarl - conde - da Islândia.)
À Islândia também foi dada seus próprios oficiais administrativos. Em torno de 1300 foi demandado no Alþingi que os islandeses dos antigos clãs de chefes deveriam ser apontados como representantes reais na Islândia. Por séculos após isso, a maioria dos cargos administrativos foram ocupados por islandeses. Somente o cargo de governador (hirðstjóri), o oficial supremo real na Islândia, foi ocupado tanto por estrangeiros quanto por islandeses.
A Islândia também não se tornou parte do sistema nacional de defesa da Noruega. Nenhuma medida de defesa do país foi tomada, e foi somente em raras ocasiões que o rei tentou induzir os islandeses a contribuir com forças ou dinheiro para a defesa do reino, geralmente com pouco sucesso.
(No século 13, Bergen - na Noruega - se tornou a capital da Islândia. O rei vivia neste palácio. Na época deve ter tido outra aparência, uma vez que foi reconstruído no século 19.)
Outro fator que foi crucial para o status da Islândia a longo prazo foi o desenvolvimento dos idiomas nórdicos. Durante o período da Antiga Confederação, os islandeses viam os dialetos falados nos países nórdicos como uma única língua, a qual eles chamavam de nórdico ou dinamarquês. Mas nos séculos 14 e 15 as outras línguas nórdicas passaram por mudanças consideráveis, enquanto a língua dos islandeses permaneceu praticamente inalterada. Por conta disso os islandeses pararam de chamar seu idioma de nórdico, e passaram a chamá-lo de islandês. Sua isolação linguística, por sua vez, acabou ajudando os islandeses e manter leis e oficiais estrangeiros fora do país. Dessa forma a Islândia conseguiu manter um nível de autonomia considerável dentro do reino.
O modo que os poderes seculares e eclesiásticos estavam entrelaçados na Islândia seria provavelmente visto hoje como benéfico à igreja e à vida religiosa. Mas na Idade Média a igreja procurava ter autonomia, e muitos líderes da igreja queriam acima de tudo que a igreja de seu país concordasse com os padrões europeus da época.
Em 1178 um bispo de uma nova geração veio para a diocese de Skálholt: Þorlákur Þóhallsson, um monge, sem parentesco com nenhum dos magnatas. Ele chegou com um mandato do arcebispo de Trondheim, para tomar autoridade sobre todas aquelas propriedades que haviam sido "doadas" para a igreja mas estavam sendo tratadas como empreendimentos privados. Não havia disputa sobre a posse das igrejas ou de suas propriedades; os donos eram os santos para os quais as igrejas eram dedicadas. A disputa era sobre quem deveria gerenciar as propriedades para eles: descendentes do doador ou o bispo.
O bispo Þorlákur começou por reivindicar autoridade sobre propriedades de igrejas individuais no leste, com algum sucesso. Mas no sul ele encontrou oposição intransigente do magnata mais poderoso da Islândia, Jón Loftsson, de Oddi. Pode-se suspeitar que a vingança tinha um aspecto mais pessoal, uma vez que Þorlákur havia sido criado em Oddi, e sua irmã era a concubina de Jón. No final, o bispo teve que ceder, mas sua reivindicação sobre propriedades da igreja não foi esquecida pelos clérigos islandeses.
(Na Idade Média, três islandeses atingiram o que pode-se chamar de status de santidade. Eles eram todos bispos de dioceses islandesas, e eles são mostrados nesta frente de altar da diocese de Hólar. Dois estavam envolvidos na campanha pela autonomia da igreja: o bispo Þorlákur Þórhallsson de Skálholt, à direita, e o bispo Guðmundur Arason de Hólar, à esquerda. Entre eles está Jón Ögmundsson, o primeiro bispo de Hólar. Nenhum desses santos do país foram reconhecidos pelo papa, até a canonização de Þorlákur em 1985.)
Outros aspectos da campanha pela autoridade da igreja (libertas ecclesiae) tiveram mais sucesso. Em 1190 o arcebispo enviou instruções para que os chefes (aqueles que possuíam um goðorð) não poderiam mais ser ordenados ao sacerdócio. Este comando parece ter sido obedecido. A partir deste momento a ligação que unia a observância religiosa ao governo secular, talvez uma lembrança dos tempos pagãos, foi quebrada.
Na primeira metade do século 13, os poderes secular e eclesiástico entraram em conflito no norte da Islândia. Por um período de décadas, um grande número de chefes da Islândia entraram em conflito com o bispo Guðmundur Arason de Hólar. A disputa parece ter se focado principalmente em se o bispo ou o chefe local, que havia arranjado a indicação de Guðmundur ao episcopado, deveriam ter controle sobre os recursos da diocese.
(Foto: foto pessoal minha na igreja de Skálholt, como ela é no tempo atual.)
A disputa nunca terminou, e após a morte do bispo Guðmundur em 1237 o arcebispo de Trondheim começou a enviar bispos estrangeiros para a Islândia. Pouco se sabe de seus esforços para promover a autonomia eclesiástica.
Em 1269, Árni Þorláksson foi indicado bispo de Skálholt, o primeiro bispo islandês na diocese por mais de três décadas. Ele reviveu a reivindicação de Þorlákur pela autoridade sobre as propriedades da igreja, e alcançou mais do que somente meia vitória. Em 1297 o bispo Árni conseguiu um acordo com o rei Erik Magnusson da Noruega, onde o bispo ganhava controle de todas as propriedades que eram totalmente de posse da igreja, enquanto propriedades onde os proprietários de terra possuíam metade das terras ou mais continuariam a ser gerenciadas por ele. A maioria das propriedades das igrejas islandesas se tornaram sujeitas à autoridade do bispo. Isso era um baque enorme para os chefes islandeses. Se tornou então ainda mais importante para eles o ganho de cargos públicos reais e impostos.
O domínio do rei da Noruega, quando a Islândia se tornou parte dele, estava centrado no Atlântico Norte. Estendia-se da costa oeste da Groenlândia ao mar de Barents ao norte, e ao sul a Gotemburgo e às Ilhas Orkney (como já mencionado, as Ilhas Hébridas e a Ilha de Man não podem realmente ser incluídas). Puramente em termos de distância, a Islândia não estava longe do meio deste reino; estava a uma semana de viagem dos centros principais, a corte real em Bergen e a arquidiocese em Trondheim. E somente dois séculos depois a capital do Estado era a cidade de Copenhagen ao sul, e a Islândia era o ponto mais a oeste no reino.
(A alteração da posição da Islândia, de ser uma parte do domínio marítimo do rei da Noruega a pertencer ao domínio territorial do rei da Dinamarca.)
Foi o rei Hakon (1299-1319), filho de Magnus, que mudou o impulso do Estado para o sul e para leste. Ele mudou sua corte de Bergen para Oslo, e arranjou um casamento entre sua filha Ingeborg e o irmão do rei sueco, quando ela tinha um ano de idade. Seu filho, Magnus, herdou os tronos da Suécia e da Noruega em 1319, com três anos de idade.
A Noruega como um reino autônomo tinha então praticamente deixado de existir. O meio do século 14 também viu a Peste Negra varrer a Escandinávia. A doença foi especialmente violenta na Noruega, onde provavelmente dois terços da população morreram em epidemias sucessivas.
No período de 1376 a 1380 o menino rei Olaf, filho de Hakon, herdou as coroas da Dinamarca e da Noruega. Desse modo, a Islândia se tornou sujeita ao trono dinamarquês, uma relação que não iria ser terminada até 1944. Olaf também era da casa real sueca (que reinava sobre a Finlândia também). É fácil imaginar a ideia de um reino nórdico unificado se formando na mente da rainha Margrethe, mãe do rei menino. Mas em 1387, Olaf subitamente morreu, aos 17 anos. Mas Margrethe não desistiu de seus planos. Ela maquinou planos para ser eleita em todos os reinos nórdicos, e ter seu filho adotivo de seis anos de idade indicado herdeiro a todos os tronos. Em 1397 uma tentativa foi feita na cidade sueca de Kalmar de estabelecer uma união permanente de todos os Estados.
Através da existência da União de Kalmar seus reis sentavam-se na Dinamarca. Os suecos eram às vezes parte da união, às vezes não, até eles retirarem-se permanentemente em 1521. A Noruega foi, entretanto, comandada pelo rei dinamarquês até 1814, quando foi forçada a se submeter à coroa sueca, deixando a Islândia, as Ilhas Faroé e a Groenlândia como domínios dinamarqueses.
(À esquerda, a rainha Margrethe I. À direita, o rei Albrecht da Suécia, o qual ela sucedeu após tê-lo deposto.)
À essa época, a Groenlândia tinha novamente se tornado parte do reino dinamarquês; a Dinamarca medieval, que estava longe de ser um poder naval, havia "perdido" a Groenlândia por dois séculos. A última ocasião em que se sabe que um navio chegou na Noruega vindo da Groenlândia foi em 1410. Quando uma pesquisa foi feita na Groenlândia por pessoas nórdicas, no início do século 17, somente nativos Inuit foram encontrados.
No século 15, o rei da Dinamarca também desistiu das Ilhas Shetland e Orkney. O rei Christian I havia gastado tanto sem medidas para garantir seu controle sobre os ducados de Schleswig e Holstein que em 1468 ele teve que hipotecar as ilhas para o rei da Escócia como pagamento do dote de sua filha. A hipoteca nunca foi paga.
Os primeiros colonizadores da Islândia deveriam saber como pescar no mar, e sem dúvida tentaram pescar assim que chegaram à Islândia. As sagas frequentemente mencionam a pesca, mas quase nunca a exportação de peixes. Não foi até 1300 que exportação de peixe foi mencionada em fontes confiáveis. O peixe islandês foi primeiramente mencionado em anotações de importações inglesas em 1307. Em 1340 um comando da corte foi feito na Noruega que os mercadores estariam obrigados a pagar uma taxa sobre peixe, óleo de peixe e enxofre importado da Islândia, e não somente em tecido de lã, como era o costume. Este comando diz que isso aconteceu porque até então pouco peixe havia sido exportado da Islândia, e uma grande quantidade de tecido de lã, mas que agora peixe e óleo de peixe estavam sendo exportados de lá em maior quantidade.
(Durante a época de pesca no inverno, os pescadores viviam em cabanas pequenas de teto baixo, onde dormiam a dois em cada cama. Esta cabana que sobreviveu em Stokkseyri, no sul da Islândia, é conhecida como Þuríðarbúð (Cabana de Þuriður) por causa de Þuríður Einarsdóttir, que por 25 anos foi a mulher que comandava o leme de um barco que pescava a partir de Stokkseyri na primeira metade do século 19. Não era incomum para mulheres fazerem parte da tripulação de barcos de pesca, mas elas muito raramente ficavam no leme.)
As exportações necessitam tanto de oferta como de demanda. A demanda existia, em sua maioria, de cidades em desenvolvimento na Europa continental. O peixe era uma das comidas permitidas durante períodos religiosos de jejum, e deste modo a demanda por ele cresceu à medida que a população urbana cresceu, e pessoas necessitavam de comida para o jejum, mas não tinham acesso a cereais. Até essa época, mercadores alemães conseguiam comprar amplamente peixe norueguês em Bergen, mas em 1300 os mercadores noruegueses começaram a importar peixe islandês para vender aos alemães.
A oferta também deve ter aumentado na Islândia à medida que os islandeses aprenderam a explorar as migrações anuais de inverno de bacalhau próximas às costas sul e sudoeste, onde eles se reproduzem em águas rasas. Foi nos anos após 1300 que estações de pesca temporárias se estabeleceram na costa sudoeste, e o setor mais rico da sociedade começou a se congregar nessa região. Os chefes mais poderosos quase todos haviam se estabelecido no interior. Agora a próspera elite começara a se estabelecer ao longo da costa entre Selvogur, no sudoeste e Vatnsfjörður nos fiordes do oeste. Hvalfjörður e Hafnarfjörður se desenvolveram como os mais importantes centros comerciais da Islândia.
(Exemplo de bacalhau sendo posto para secagem ao sol na região dos fiordes do oeste da Islândia, na cidade de Ísafjörður.)
A administração real na Islândia estava localizada em Bessastaðir (atualmente a residência presidencial). As Ilhas Westman caíram nas mãos do poder real e renderam tanta receita pública que os oficiais em Copenhagen, cujos conhecimentos geográficos dos domínios dinamarqueses eram bem vagos, que em alguns momentos se referiam ao país como "Islândia e as Ilhas Westman".
Esse período viu o desenvolvimento da sociedade mista agrária/pesqueira que tipificou a economia islandesa por séculos. Em janeiro ou fevereiro, as pessoas viajavam das áreas rurais para as estações de pesca, onde permaneciam até a primavera, pescando a partir de pequenos barcos. Esta era a época mais favorável de pesca, já que as quantidades de peixe eram abundantes, o tempo era frio o suficiente para permitir que o peixe secasse antes de apodrecer, e relativamente poucas pessoas eram necessitadas na fazenda.
(A pesca a partir de barcos a remo abertos pode parecer primitiva, mas na verdade se requeria muita habilidade para construir barcos, mantê-los flutuando em mar aberto, e encostar o barco à beira da praia onde não havia nenhum porto.)
As pessoas residiam, então, em áreas rurais, em fazendas. Vilarejos pesqueiros que eram habitados por todo o ano não começaram a evoluir até o século 19. É discutível se isso reflete a eficiência econômica da pesca sazonal, ou se as pessoas se abstinham de ficar permanentemente na costa por vários obstáculos. Os proprietários de terra islandeses, que provavelmente tinham grande participação na legislação islandesa, não viam a pesca como uma provisão de vida confiável; essa convicção pode também ter refletido suas próprias vontades de monopolizar a força de trabalho no emprego rural.
Os islandeses pescavam em sua maioria usando linhas de pesca manuais, e quase que exclusivamente em barcos abertos à remo, frequentemente equipados com uma vela para uso quando houvesse ventos favoráveis.
A peste pandêmica conhecida como a Peste Negra que varreu a Europa em meados do século 14 não chegou à Islândia. Mas na Islândia o século 15 começou e terminou com duas epidemias da peste que provavelmente não foram mais brandas que a própria Peste Negra. A primeira epidemia durou de 1402 a 1404, e a última em 1494 e 1495. A peste aparentemente nunca se tornou endêmica na Islândia, e nenhum outro surto da doença sabe-se ter acontecido após estes dois.
O período da peste é o menos documentado na história islandesa. Nenhuma saga foi escrita sobre acontecimentos na Islândia após uma biografia de um bispo que morrera em 1331. Somente um anal contemporâneo, os Novos Anais, cobre o período de 1393 a 1430. Nesta época ele foi abandonado, e outros anais não foram escritos até o século 16. Fontes sobre as epidemias são, então, escassas, mas o progresso da doença pode ser traçado amplamente.
(Uma cena mostrando monges, desfigurados pela Peste Negra, sendo abençoados por um padre. Cena inglesa, entre 1360 e 1375.)
Na primeira ocasião a peste chegou à Islândia em Hvalfjörður, no oeste, provavelmente em agosto de 1402. No Natal, havia chegado à diocese de Skálholt no meio do sul e Skagafjörður no meio-norte. Em 1403 os Novos Anais mencionam pessoas que morreram, provavelmente da peste, dos Fiordes do Oeste e de tão longe quanto o meio-leste. A epidemia assolou o país inteiro e extinguiu-se em torno da Páscoa de 1404, após 18 ou 19 meses.
Os Novos Anais citam vários números sobre a mortalidade da peste. Alguns são muito altos para serem críveis, enquanto outros são mais moderados; esses todos indicam uma taxa de mortalidade de mais de 50%. No convento de Kirkjubæjarklaustur, por exemplo, a abadessa e sete freiras morreram, enquanto seis freiras sobreviveram. Em comparação, fontes indicam um grande número de fazendas abandonadas em torno de 40 anos após a epidemia, quando aproximadamente 20% das fazendas permaneciam inabitadas. A partir deste número pode-se deduzir que a taxa de mortalidade foi de ao menos 50%.
(Estimativa das mortes na primeira epidemia da peste na Islândia, 1402-1404, baseando-se em que 20% das fazendas estavam desabitadas quando as próximas informações se tornaram disponíveis, em torno de 40 anos após a peste. Acredita-se que metade da população tenha morrido de peste, enquanto os sobreviventes se espalharam para habitar em torno de 60% das fazendas. Durante os próximos 40 anos, a população aumenta em torno de 40%, o que dá em torno de 20% da população que existia antes da peste. Estas pessoas adicionais moram em 20% das propriedades. Isso deixa 20% das propriedades desabitadas 40 anos após a peste.)
A segunda epidemia, de 1494 a 1495, é descrita por um analista, não a partir de sua experiência própria, mas baseada no testemunho de um homem que tinha 14 anos de idade na época:
"Nesta peste houve tanta perda de vida, que ninguém poderia comparar ou sequer tinha ouvido sobre algo assim, muitas fazendas estavam desertas, e na maior parte dos casos não havia sobrado ninguém nas fazendas exceto duas, no máximo três pessoas, algumas vezes crianças, normalmente duas ou no máximo três, algumas vezes bebês de colo, e alguns se amamentavam de suas mães mortas. Desses eu vi um, que era chamado Manga de Tungufell ... Onde tinham existido nove irmãos só haviam restado dois ou três."
A mortalidade nessa epidemia foi provavelmente menor do que na anterior, parcialmente porque ela não atingiu a região dos Fiordes do Oeste. Sempre se sustentou que a peste é carregada por ratos e pelas pulgas que vivem neles. Independentemente dos fatos quais sejam, as epidemias de peste na Islândia não podem ter sido disseminadas dessa maneira, uma vez que ratos eram desconhecidos na Islândia até o século 18. A peste na Islândia é, então, um exemplo interessante de um surto virulento na ausência de uma população de ratos.
O efeito da peste se deu para sustentar o status quo na Islândia. A queda na população iria fazer mais terras disponíveis para os sobreviventes, e desse modo diminuir a motivação do estabelecimento de moradia ao mar e da vivência pela pesca.
Em 1415, a Câmara dos Comuns do parlamento inglês disse que os ingleses já estavam pescando na costa da Islândia por seis ou sete anos. Fontes islandesas primeiramente mencionam pescadores ingleses em 1412. Um veleiro desconhecido foi visto perto de Dyrhólaey na costa sul; quando os islandeses remaram até o navio, viram que era inglês. Mais tarde neste mesmo século, acredita-se que até cem veleiros ingleses tenham ido à Islândia anualmente, e em média dez navios mercantes velejavam à Islândia para comprar peixe; estes eram, em sua maioria, grandes veleiros com capacidade de até 400 toneladas e tripulação de até cem homens.
A Islândia era uma terra sem defesa, e os ingleses podiam mais ou menos fazer o que eles quisessem. Em 1425 eles capturaram o governador da Islândia, um dinamarquês, e o transportaram para a Inglaterra, onde ele escreveu uma acusação formal, dizendo que os ingleses haviam fortificado sua estação de comércio nas Ilhas Westman, e que até mesmo haviam exterminado a população de algumas áreas rurais. Não se sabe o quanto de suas alegações eram verdadeiras, mas uma das acusações, a de que os ingleses sequestraram crianças islandesas, é confirmada por documentos. Diz-se também que os islandeses davam ou vendiam seus filhos para os ingleses; esta é a origem da reputação da Islândia entre geógrafos europeus por séculos, como um lugar onde as pessoas davam seus filhos aos estrangeiros, mas pediam um alto preço por seus cachorros.
(Foto: os ingleses tinham seu quartel general nas Ilhas Westman. Eles fortificaram seu posto de comércio como uma instalação militar, de acordo com o governador dinamarquês. Aqui vê-se o porto da cidade de Vestmannaeyjar, a principal do arquipélago.)
Em 1432, o bispo de Skálholt, um dinamarquês de altas origens, foi capturado, amarrado em um saco e afogado. O ação foi feita por islandeses, mas alguns historiadores dizem que o bispo de Hólar, um inglês, estava por detrás disso. Mas não há dúvidas de que o assassinato do governador islandês Björn Þorleifsson em 1467 foi trabalho de um inglês. Os dinamarqueses fizeram muito estardalhaço por causa dessa morte, e no ano seguinte uma guerra que duraria cinco anos começou entre a Inglaterra e a Dinamarca. Os islandeses, na periferia da história da Europa, gostam de acreditar que foi o assassinato de Björn que tenha causado a guerra. Alguns também acreditam que o comércio de peixes islandês deu aos ingleses a experiência que eles precisavam em navegação oceânica e os deixou aptos a começarem a velejar regularmente para a América do Norte no século seguinte, e através disso colonizar muitas partes do mundo. Sob esse olhar, o papel da Islândia no mundo não é tão pequeno.
Mas os ingleses se permitiram ser expulsos da Islândia. Na segunda metade do século 15, os alemães começaram a velejar para a Islândia, onde se encontraram em conflito com os ingleses. Nos confrontos sangrentos que surgiram, a Coroa dinamarquesa geralmente ficava do lado dos alemães. À metade do século 16 os ingleses haviam sido expulsos da Islândia, mas se mantiveram nas Ilhas Westman até 1558, quando a Coroa apreendeu todas suas propriedades lá. Após isso, os ingleses tinham que se estabelecer em águas fora da Islândia para pescar sem chegar em terra firme, exceto de forma furtiva.
(Na Islândia, muitas peças de altar de alabastro inglês foram preservadas, e acredita-se que elas tenham sido trazidas para a Islândia no Século Inglês, como o altar que encontrava-se em na igreja de Hólar, mostrada aqui nos dias atuais.)
Ao mesmo tempo em que os ingleses cederam, a Coroa se voltou contra os alemães. Em 1543 ou 1544, todos os barcos pesqueiros possuídos por alemães na península sudoeste foram apreendidos.
Os ingleses e alemães trouxeram vários novos produtos para a Islândia. Os islandeses nunca haviam visto tanta variedade de tecidos e sapatos, ferramentas, armas e vinho. Mas a influência dessas nações estrangeiras seria erradicada pela influência dinamarquesa nos séculos seguintes. Uma nova era estava começando para muitos países europeus, mas a Islândia estava prestes a entrar em um período de isolamento sem precedentes como um remoto domínio dinamarquês.
Em 1536-1537, o rei Christian III introduziu o luteranismo em seu reino por lei, cortou relações com o Vaticano em Roma, e fez da igreja uma instituição do Estado.
(Membro da igreja na atualidade vestindo uma cópia da capa do bispo Jón Arason, que está preservada no Museu Nacional da Islândia. Ele há muito tempo é uma figura respeitada na história islandesa, em grande parte porque ele foi visto como um oponente à autoridade real dinamarquesa. E a partir de versos escritos pelo bispo Jón, aparenta que ele via o conflito sobre a Reforma primariamente como uma luta entre dinamarqueses e islandeses.)
O Protestantismo era nessa época invariavelmente mais forte entre moradores urbanos, um grupo social não existente na Islândia, e na Islândia não havia protestantes, mas somente um punhado de jovens intelectuais na sé de Skálholt. O rei também procedeu vagarosamente na tentativa de converter os islandeses.
Os representantes reais na Islândia, entretanto, decidiram explorar a aversão do rei aos monastérios, e em 1539 eles apoderaram-se do monastério na ilha de Viðey na costa de Reykjavík. No mesmo ano o tesoureiro real foi a leste para Skálholt, provavelmente com a intenção de tomar posse de mais casas religiosas. Mas em Skálholt eles foram vítimas de uma emboscada por um grupo de fazendeiros armados, que mataram o tesoureiro e seus seguidores. Isso varreu o governo dinamarquês da Islândia, o qual não foi restituído até que um veleiro dinamarquês chegou na Islândia no verão de 1541. À essa época o bispo de Skálholt, Ögmundur Pálsson, havia se aposentado, tendo descuidadamente nomeado como seu sucessor Gissur Einarsson, um membro da seita Luterana secreta em Skálholt. A Reforma foi, então, introduzida lá sem problemas.
(A página-título da Bíblia publicada pelo bispo Guðbrandur Þorláksson de Hólar. Foram impressas 500 cópias, e era vendida a um preço equivalente a duas ou três vacas, dependendo dos recursos do comprador.)
O bispo da diocese do norte, Jón Arason em Hólar, foi deixado sozinho na época, e após a morte do bispo Gissur em 1548 ele até mesmo começou a intervir nos negócios da diocese de Skálholt. O rei tentou induzir seus seguidores islandeses a prender o bispo, mas nada foi feito até o outono de 1550, quando o bispo Jón se arriscou a viajar para o oeste da Islândia com somente alguns homens e seus dois filhos (na Islândia, era comum bispos católicos viverem com mulheres e terem filhos). Eles foram capturados, mas ninguém estava preparado a mantê-los presos no inverno, porque os que os capturaram temeram que os seguidores do norte do bispo Jón iriam tentar libertá-los. Dessa forma, eles foram decapitados sem o amparo da lei em Skálholt em 7 de novembro. Na Islândia, esse evento é lembrado como o marco do final da Idade Média.
O temor dos homens do norte se provou correto. No início de 1551, 60 homens do norte foram em direção ao sul. Eles mataram o tesoureiro real e todos os dinamarqueses que puderam encontrar. Mais uma vez, o governo real dinamarquês na Islândia foi aniquilado. Mas o governo foi reestabelecido no verão seguinte, o qual viu a adoção final da Reforma na Islândia, em torno de 15 anos mais tarde do que na Dinamarca.
(As sés episcopais eram os únicos locais na Islândia com uma concentração de pessoas, até o desenvolvimento do primeiro vilarejo em Reykjavík. A figura mostra Skálholt no século 18.)
Na Reforma, os monastérios foram dissolvidos, e suas posses passadas para o rei. Mas as sés episcopais retiveram o volume de suas propriedades e receitas, e elas se tornaram os principais centros culturais da Islândia. Em ambas as sés existiam escolas de latim, as quais preparavam prospectivos clérigos e outros para educação posterior em Copenhagen.
Guðbrandur Þorláksson (1571-1627) de Hólar tinha em torno de 100 livros publicados na língua do país, a qual os islandeses anteriormente chamavam de "nórdico", mas agora chamada "islandês", incluindo uma tradução da Bíblia em 1584. A Islândia diferia de outros domínios dinamarqueses no fato de que a língua materna dos habitantes, e não o dinamarquês, se tornou a língua da igreja luterana. Já nos dias do bispo Guðbrandur, os islandeses começaram a ver sua língua como um valioso tesouro nacional. Essa convicção se tornou dominante na Islândia desde então, e até mesmo o islandês moderno contém uma proporção muito pequena de palavras emprestadas de outros idiomas.