Os séculos 17 e 18 podem ser chamados de Era Dinamarquesa na Islândia; o poder da coroa e a influência dinamarquesa estava aumentando.
Em 1602 o rei Christian IV concedeu aos mercadores de três cidades dinamarquesas direitos exclusivos ao comércio da Islândia. Esse fato marcou o início de 185 anos de monopólio do comércio exterior islandês. O comércio foi restrito aos dinamarqueses, que proibiram qualquer competição entre os comerciantes.
(Por um período de tempo, a Islândia era dividida em distritos de comércio, em torno de certos portos. Cada um era concedido a um certo mercador, e os habitantes da região eram proibidos de comercializar fora dela. Muitos desses portos comerciais se tornaram vilarejos e cidades, e ainda existem hoje. O grande número de portos comerciais no oeste demonstra a importância da exportação de peixe. Era no oeste que a maioria dos peixes eram pescados, desse modo a economia conseguia sustentar mais mercadores.)
O comércio monopolista servia aos interesses comuns de três partidos. A coroa impediu outras nações de se tornarem interessadas no país, e dessa forma economizaram o gasto em potencial para defendê-lo, e o comércio também geralmente rendia alguma receita de concessão para o tesouro. Os comerciantes dinamarqueses tiveram um lucro considerável com o comércio, o qual eles utilizavam como um mercado de práticas, coordenando um comércio internacional de longa distância sem ter que se preocupar em sustentar concorrência. Finalmente, o comércio de monopólio ajudou os proprietários de terra islandeses a reter seu monopólio da força de trabalho, uma vez que o acordo comercial impedia a formação de centros urbanos de população na Islândia.
O reinado absolutista pelo rei foi introduzido na Dinamarca em 1661, pela coroa em aliança com a burguesia contra a nobreza. Na Islândia não havia nem burguesia nem nobreza; aqueles que representavam a Islândia em juramento de aliança à monarquia absolutista em Kópavogur no verão de 1662 estavam claramente incertos se estavam renunciando a direitos. E o governo doméstico do país não foi alterado pelo absolutismo. Não foi até mais de duas décadas depois que o país foi reorganizado para se adequar de forma mais próxima ao sistema dinamarquês. Um novo gabinete do governador (stiftamtmaður) foi instituído, substituindo o hirðstjóri. Esse gabinete era inicialmente uma sinecura, alocada ao filho ilegítimo do rei de cinco anos de idade. Mas a partir de 1770 os governadores residiam na Islândia, e a governavam na prática. Sob sua autoridade existiam dois ou três amtmenn (governadores regionais com responsabilidade sobre um quarto ou metade do país), enquanto as finanças ficavam nas mãos do landfógeti ou tesoureiro. Os gabinetes dos magistrados e comissários distritais permaneceram inalterados.
(Os governantes dinamarqueses residiam em Bessastaðir - hoje a residência do presidente. A foto mostra Bessastaðir. O prédio da direita é uma igreja. Existiam também no local a residência do governador regional, a residência do tesoureiro, acomodações para trabalhadores da fazenda e galpões para gado.)
O absolutismo gradualmente invadiu a vida islandesa na forma do poder ter sido aumentado nas mãos dos oficiais. A vasta maioria dos oficiais era islandeses, com exceção do governador, tesoureiro e governadores regionais, alguns dos quais eram islandeses e outros, dinamarqueses. Os oficiais islandeses provavelmente tinham influência considerável nos assuntos islandeses, e tendiam a servir aos interesses dos proprietários de terra. Mas as autoridades dinamarquesas gradualmente começaram a intervir mais ativamente do que antes nas vidas das pessoas. No século 18, por exemplo, medidas foram introduzidas para assegurar que todos aprendessem a ler.
(Representantes dos islandeses aceitaram o rei como comandante absoluto da Islândia em Kópavogur - sul de Reykjavík - no verão de 1662. O evento é celebrado por esse monumento.)
O comércio monopolista foi abolido em 1787, mas o comércio permaneceu limitado àqueles sujeitos ao rei da Dinamarca até 1855. Uma vez que não havia impedimento legal para os islandeses comercializarem nesse período, os negócios permaneceram em grande parte nas mãos dinamarquesas. O poder absoluto se provou ainda mais tenacioso: ele não terminou até uma constituição ser concedida à Islândia em 1874.
A História islandesa há muito tempo vem sido apresentada como um conto romântico, com uma época de inicial esplendor até o final da Antiga Confederação, seguida por um longo período de dificuldades, e culminando na renascença nos séculos 19 e 20. De um jeito ou de outro, a História ensinou aos islandeses que autonomia política significa prosperidade, enquanto submissão significa decadência. Ainda permanece como tópico de discussão o modo como essas linhas evolutivas se convergem, uma vez que as flutuações também coincidem em algum nível com variações climáticas. Parece, na verdade, que o clima sempre foi mais quente quando a nação é independente, mas se tornaria difícil de produzir uma prova científica de tal nexo causal.
(Estimativa das temperaturas médias na Islândia dos séculos 9 ao 20. Observações do tempo regulares têm sido feitas em Stykkishólmur, oeste da Islândia, desde meados do século 19. Anteriormente a esse período, as temperaturas são deduzidas a partir de dados do gelo marítimo na costa da Islândia.)
Os séculos 17 e 18 foram geralmente vistos como o ponto mais baixo da vida islandesa. O século 17 foi o período da ortodoxia luterana, quando o medo da condenação eterna era o modo principal da igreja para assegurar bom comportamento. Essa também foi a época da caça às bruxas, que levou 25 pessoas a serem queimadas na estaca na Islândia. E isso foi quando a Islândia sofreu o que provavelmente seja a única invasão sangrenta em sua história: em 1627 um bando de piratas do norte da África veio para a Islândia, sequestraram mais de 350 pessoas e mataram em torno de 50.
Nada disso foi pior do que outros países europeus da época sofreram. Mas o século 18 foi um período de progresso na maior parte da Europa, e na Dinamarca não foi diferente, enquanto na Islândia foi um século de grande degradação. O exemplo mais claro é encontrado nos números de população. Em 1703 um censo foi feito na Islândia, e a população era de 50.358. Em 1801 o número de habitantes havia caído em mais de 3 mil, para 47.240. Essa redução foi atribuída a três baques sofridos pela Islândia.
(Durante os séculos frios, um modo de manter o calor era posicionar o baðstofa - quarto comunal para dormir e estar - sobre o estábulo, para utilizar o calor proveniente do gado.)
O primeiro baque sofrido foi uma epidemia de varíola que aconteceu em 1707-1709. Na Europa continental, a varíola era endêmica como uma doença da infância, que tirava poucas vidas e conferindo imunidade vitalícia em adultos. A doença só acidentalmente chegou à Islândia, infectando muitos adultos, cuja resistência era menor. O surto de 1707, o primeiro em 35 anos, custou a um quarto da população suas vidas, reduzindo a população a 37.000.
O próximo golpe foi a fome em 1751-1758, devido a condições climáticas frias, gelo marítimo e poucas capturas na pesca. Nessa época, a população caiu novamente, de quase 49.000 para 43.000.
(Os Incêndios de Skaftá - erupção do Monte Laki - produziu uma extensão de lava de 580km² de área, ou 0,5% da área da Islândia. Nos dias de hoje, um musgo macio e complacente cresce na maior parte desse campo de lava. Foto de um típico campo de lava islandês, na península Snæfellsnes.)
Duas décadas depois, os islandeses haviam atingido o número de 50.000 mais uma vez, quando se deu o terceiro baque. No verão de 1783 uma erupção vulcânica começou em Skaftafellssýsla no sudeste, jogando lava que fluía pelo curso do rio Skaftá, esse evento sendo conhecido como os Incêndios de Skaftá. As cinzas expelidas pelo vulcão se mostraram tóxicas para os animais domésticos, e se elevaram tão alto na atmosfera que uma névoa encobriu todo o país - e, na verdade, uma área bem maior. O inverno seguinte foi excepcionalmente frio, o que causou a fome. Severos terremotos no sul no inverno de 1784 destruíram em torno de 400 casas de fazenda, e isso fez se tornar ainda mais difícil para as pessoas juntar suprimentos para o inverno. Estes eventos levaram à total mortalidade pela fome e por doenças decorrentes de deficiência alimentar de cerca de 10.000, um quinto da população. A Fome da Névoa foi um grande choque para os islandeses, que haviam anteriormente começado a sentir que estavam no caminho para o progresso.
Na sessão do Alþingi em Þingvellir no verão de 1751, treze islandeses formaram uma corporação para estabelecer uma indústria da lã baseada em fábricas, e fazer outras inovações econômicas na Islândia. A companhia era chamada em dinamarquês de De nye Indretninger (os Novos Empreendimentos), que se tornou Innréttingar no islandês do século 18. O grupo era liderado por Skúli Magnússon, que havia sido recentemente nomeado tesoureiro nacional, o primeiro islandês a ocupar o cargo. Em Copenhagen, foi prometida a ele uma generosa contribuição do tesouro estatal, e o uso da propriedade real de Reykjavík. Skúli decidiu estabelecer as oficinas do Innréttingar lá. Desse modo, a primeira fazenda da Islândia, de acordo com fontes antigas, se tornou o primeiro centro urbano do país e mais tarde sua capital. Não há prova alguma de que Skúli tinha qualquer precedente histórico em mente quando ele escolheu Reykjavík para o Innréttingar, e tal ato não seria muito comum de acordo com o pensamento do século 18.
(Uma série de construções de madeira de somente um andar foram feitas para o Innréttingar ao longo do caminho que levava da fazenda de Reykjavík para o mar. Esse caminho foi mais tarde renomeado de Aðalstræti - Rua Principal. Esta casa - número 10 - ainda se encontra no local, a única das construções do Innréttingar que ainda conserva sua forma quase idêntica à original.)
Os séculos 17 e 18 foram geralmente vistos como o ponto mais baixo da vida islandesa. O século 17 foi o período da ortodoxia luterana, quando o medo da condenação eterna era o modo principal da igreja para assegurar bom comportamento. Essa também foi a época da caça às bruxas, que levou 25 pessoas a serem queimadas na estaca na Islândia. E isso foi quando a Islândia sofreu o que provavelmente seja a única invasão sangrenta em sua história: em 1627 um bando de piratas do norte da África veio para a Islândia, sequestraram mais de 350 pessoas e mataram em torno de 50.
Vários prédios baixos de madeira foram construídos em Reykjavík para fazer fiação de lã, enchimentos, confecção de cordas e curtimento de couro. Essas atividades empregaram entre 60 a 100 pessoas em seu auge. Dois navios com deques foram comprados para a pesca e para transportar mercadorias para o exterior. Quatorze fazendeiros dinamarqueses e noruegueses foram trazidos para ensinar aos islandeses a lavoura com arado. O enxofre, um ingrediente vital para munições na época, era processado para exportação.
Nenhum desses negócios foram bem-sucedidos. O rei continuamente contribuía com fundos para o empreendimento, até que em 1764 o Innréttingar se fundiu com uma nova companhia que estava tomando conta do comércio na Islândia. Após isso, o Innréttingar se tornou parte dos negócios mercantis de Reykjavík. O empreendimento gradualmente decaiu, até ser abandonado entre 1801 a 1803.
(Reykjavík em 1836. No lago, que era um tanto maior na época, está erguida a catedral, que ainda se encontra em Kirkjustræti. À sua esquerda, bem atrás de modo que seu telhado passa o nível do mar, há um prédio que ainda está de pé. Construído entre 1765 e 1770 como uma prisão, posteriormente se tornou a residência do governador, e subsequentemente a Casa do Governo, abrigando o governo da Islândia independente. Hoje o prédio é o gabinete do Primeiro Ministro. O prédio se encontra em Lækjargata; um dormitório maior foi adicionado à frente do edifício.)
Então a alta administração do país se mudou para Reykjavík. Depois da Fome da Névoa e dos terremotos de 1784, a sé episcopal de Skálholt estava em ruínas. A sé foi abolida, os ativos vendidos, e o bispo com a escola foram transferidos para Reykjavík. Em torno de 1800, o mesmo foi feito com a sé de Hólar, e as responsabilidades da diocese de Hólar foram transferidas para o bispo e escola em Reykjavík. Em 1800 o Alþingi foi abolido, para ser substituído por uma Alta Corte nacional, uma corte de apelação intermediária entre os administradores distritais e a Suprema Corte em Copenhagen. A Alta Corte foi fundada em 1801.
(Skúli Magnússon, "o pai de Reykjavík", é celebrado por essa estátua em um jardim público de Reykjavík.)
O governador ainda residia em Bessastaðir, mas em 1806 ele optou por viver em sua própria casa em Reykjavík ao invés de sua residência oficial. A partir dessa época o gabinete permaneceu em Reykjavík, de modo que todos os escalões superiores da administração ficaram localizados lá. A Islândia havia ganhado um centro urbano e uma capital. Esse foi um dos primeiros passos da Islândia para o mundo moderno, apesar de ter sido pequeno; em 1801, Reykjavík não era mais do que um vilarejo, com uma população de 307 pessoas.
Já na Idade Média, os islandeses tinham a convicção de que eram um povo à parte. Pelo menos desde o século 16, podiam ser encontrados islandeses que tinham orgulho de suas origens, e sensíveis às afirmações depreciativas sobre a Islândia em publicações estrangeiras. Mas tudo indica que eles estavam de forma geral satisfeitos em ser parte do reino da Dinamarca. Até o século 19, os islandeses não eram uma nação com consciência política.
(O poeta Jónas Hallgrímsson)
Isso pode ser deduzido a partir de um acontecimento ocorrido na Islândia em 1809. A Dinamarca havia se envolvido nas Guerras Napoleônicas, ao lado da França contra a Grã-Bretanha. A dominação inglesa do Atlântico Norte significou o interrompimento nas ligações comerciais entre a Dinamarca e a Islândia, e os britânicos induziram as autoridades na Islândia a lhes ceder privilégios comerciais, dessa forma violando a lei. Quando o governador proibiu os islandeses de comercializar com um certo mercador inglês, ele capturou o governador, e o seu intérprete dinamarquês, Jørgen Jørgensen, assumiu o governo do país. Jørgensen prometeu fazer da Islândia uma nação democrática independente. Os islandeses nem sequer tentaram defender o domínio dinamarquês no país, e a maioria dos oficiais islandeses permaneceu no poder durante o reinado de Jørgensen. Mas após dois meses um oficial da marinha britânica chegou à Islândia, prendeu os insurgentes e os levou de volta para a Inglaterra. Com o mesmo desinteresse de antes, os islandeses viram o domínio absoluto dinamarquês ser reimposto em seu país.
(O gramático dinamarquês Rasmus Christian Rask afirmou que o islandês era de fato o antigo idioma comum aos nórdicos, e que havia sobrevivido somente na Islândia. Ele desempenhou um importante papel em promover a auto-estima islandesa.)
O mesmo aconteceu em 1814, quando a Noruega deixou de ser dominada pela Dinamarca, ganhando os benefícios de um dos governos mais democráticos da Europa sob a coroa sueca, enquanto a Islândia permaneceu sob a autoridade absolutista do rei da Dinamarca. Na Islândia, nenhum descontentamento foi demonstrado com esse arranjo.
Não foi até a Revolução Juliana de 1830 na França que os islandeses começaram a mostrar algum traço de nacionalismo político. O rei da Dinamarca prometeu estabelecer quatro assembleias consultivas em seu reino. Na assembleia que representaria as ilhas dinamarquesas (Zelândia, Fyn etc.), duas cadeiras eram previstas para serem concedidas à Islândia. Então um estudante islandês em Copenhagen, Baldvin Einarsson, propôs que o Alþingi islandês fosse reestabelecido em Þingvellir, como uma assembleia consultiva para a Islândia. Isso não ocorreu, e por um tempo o rei indicou dois representantes para a Islândia na assembleia das ilhas dinarmarquesas em Roskilde.
(A "fortaleza de lava" de Þingvellir durante uma assembleia de anciãos, como imaginado pelo artista britânico W.G. Collingwood.)
Em 1835, quatro estudantes islandeses em Copenhagen começaram a publicar um anuário, Fjölnir, o qual retomou a proposta de reestabelecer o Alþingi. Um dos membros do grupo Fjölnir era o poeta Jónas Hallgrímsson, que imbuiu os islandeses de um nacionalismo com novo conteúdo emocional, inspirado pelo Romantismo da época. Ele via a terra e o povo como um só, fadados um ao outro para a eternidade. Ele escreveu em um poema que o Þingvellir havia sido criado por Deus para a nação:
Búinn er úr bálastorku
bergkastali frjálstri þjóð.
(Construído da lava por criação divina
Uma fortaleza para uma nação livre.)
Em 1840, o rei Christian VIII da Dinamarca sentiu que era hora de ele demonstrar sua estima pela pequena nação que havia preservado o antigo idioma do mundo nórdico, e também escrito em pergaminho as inestimáveis sagas dos antigos reis da Dinamarca. Então o rei propôs que o Alþingi fosse reestabelecido como uma assembleia consultiva para a Islândia, preferivelmente em Þingvellir. O novo Alþingi primeiramente se reuniu em 1845, mas em Reykjavík, e não em Þingvellir. A fundação do novo parlamento foi uma importante demonstração de que a Islândia possuía um status especial dentro do reino. As outras assembleias consultivas dinamarquesas representavam áreas de populações com centenas de milhares de habitantes; os indivíduos na Islândia somavam apenas 58.000.
(Jón Sigurðsson. Ele era geralmente chamado de "presidente" porque era presidente da Associação Literária Islandesa em Copenhagen e também do Alþingi.)
Nessa época o movimento para a independência islandesa ganhou um líder, o filólogo Jón Sigurðsson, que viveu em Copenhagen no decorrer de sua carreira. Quando o rei Frederik VII subitamente aboliu o reinado absolutista em 1848, Jón Sigurðsson estava certo com sua teoria de que, de acordo com o pacto acordado entre os islandeses e o rei em 1262, a autoridade sobre a Islândia deveria ser revertida para os próprios islandeses, e não para qualquer autoridade dinamarquesa, quando o rei abolira o reinado absolutista. A Islândia era um domínio do rei, não da Dinamarca. Isso contribuiu para uma exigência em prol da autonomia; o rei respondeu que nenhuma decisão seria tomada sobre a situação da Islândia no reino até os islandeses colocarem suas ideias em uma assembleia especial na Islândia.
Essa assembleia, a Convenção Nacional (Þjóðfundurinn), não foi criada até 1851, em Reykjavík. À essa época, a onda de fervor liberalista que seguiu a Revolução de Fevereiro de 1848 em Paris havia cessado. E a forte opinião dos dinamarqueses sobre o povo da pequena ilha das sagas no norte mostrou seu lado sombrio: eles não estavam dispostos a desistir dessa pequena joia em sua coroa. Não havia possibilidade de acordo entre as autoridades reais e os representantes eleitos, que quase sem exceção seguiam as políticas nacionalistas de Jón Sigurðsson. A convenção foi adiada antes que pudesse chegar a qualquer conclusão.
(Pintura do final da Convenção Nacional de 1851, por Gunnlaugur Blöndal. Apesar de ser jovem demais para ter visto qualquer um daqueles que estavam presentes na convenção, ele possuía fotos de muitos deles. Na frente estão os representantes de interesses opostos: na esquerda está o governador Trampe, que adiou a sessão em oposição às vontades dos representantes. À direita está Jón Sigurðsson, que protesta contra o adiamento.)
Duas décadas de questionamentos sobre o governo da Islândia se sucederam, dos quais um compromisso gradualmente emergiu. Em 1871 o rei aprovou uma lei que havia passado no ano anterior pelo parlamento dinamarquês, sobre o status da Islândia dentro do reino dinamarquês. A Islândia foi definida como uma parte inalienável do reino dinamarquês, mas com direitos especiais. Uma concessão de verbas anuais também foi feita do Tesouro da Dinamarca para o da Islândia. Isso aconteceu parcialmente em reconhecimento do fato que a coroa havia tomado as propriedades das sés episcopais e escolas, mas as verbas foram principalmente concedidas porque eram necessárias para que a Islândia se tornasse financeiramente separada do estado dinamarquês.
(Os islandeses celebraram um festival nacional em 1874 como um marco comemorativo do milênio da colonização do país. O rei Christian IX visitou a Islândia nessa ocasião, sendo o primeiro rei a visitar o país. O rei é mostrado aqui segurando a constituição que ele deu aos islandeses. A estátua está situada na frente da Casa do Governo em Reykjavík. Conta-se uma história de um pequeno menino que pensou que a estátua comemorava o maior vendedor de jornal da Islândia.)
A questão da autonomia islandesa permaneceu não resolvida. Os islandeses demandaram uma legislatura e um ministro na Islândia; o governo dinamarquês concordou com a legislatura, mas não com um ministro. Uma solução foi alcançada em 1873, quando o Alþingi resolveu solicitar ao rei que desse uma constituição aos islandeses como um presente pela ocasião do milênio da colonização da Islândia no ano seguinte. Isso permitiu aos islandeses se acalmarem. O Alþingi se tornou um corpo legislativo, e um dos ministros do governo dinamarquês seria no futuro o Ministro para a Islândia.
Os quarenta anos subsequentes ao final das Guerras Napoleônicas em 1814 foram uma época de crescimento na economia islandesa. O número de gado cresceu em um quarto, para mais de 27 mil. O número de ovelhas dobrou, para mais de meio milhão. A frota pesqueira cresceu quase 30%. Na mesma época, a população cresceu 35%, então somente a criação de ovelhas excedeu em crescimento o da população. A expansão se consistia principalmente de carneiros castrados, os quais produziam, entre outras coisas, lã para exportação. O comércio cresceu imensamente entre a população rural; as importações de grãos cresceram 60% por pessoa, importações de tabaco em 50%, o consumo de bebidas alcoólicas por pessoa foi multiplicado por seis, e café e açúcar, anteriormente quase desconhecidos das pessoas comuns, começaram a ser importados.
(A criação de ovelhas, com ênfase em carneiros castrados para lã, carne e sebo, foi o setor de crescimento da agricultura no século 19. Mas ela era baseada na exploração excessiva da terra e não poderia durar indefinidamente, especialmente nos períodos frios.)
O crescimento na população de ovelhas foi contingente principalmente na utilização de terras para pastagens. A possibilidade de usar essa terra aconteceu primariamente devido a um período de clima ameno nos anos 1840 e no início dos de 1850. Este crescimento e prosperidade sem dúvida exerceram seu papel no aumento da auto-confiança dos islandeses, a qual os levou a demandar autonomia quando o reinado absolutista foi abolido na Dinamarca.
Tudo isso mudou nos anos entre 1850 e 1860. Um surto virulento de sarna ovina atingiu a Islândia e se espalhou entre a população do sul e do oeste, levando a uma queda de 40% nos números nacionalmente. O período quente também chegou ao fim, e as últimas quatro décadas do século 19 foram provavelmente uma das épocas mais frias da história da Islândia. Isso significou que a agricultura podia comportar menos pessoas, e isso era composto pelo fato de que, devido a flutuações do nível populacional que se sucederam à Fome da Névoa, uma geração de número não usual alcançou a idade de casamento (em torno dos 30 anos) na época. As limitações econômicas impostas pela terra então se tornaram mais tangíveis que antes, e as comunidades tinham que arcar com custos crescentes de apoio aos pobres.
(Exemplo de uma fazenda islandesa, com uma igreja, construída em madeira, que havia se tornado comum no século 19.)
O Alþingi representava principalmente os interesses dos fazendeiros; muitos deles tinham uma cadeira no parlamento, e eles constituíam a esmagadora maioria do eleitorado. A resposta inicial dos parlamentares foi apertar as restrições feitas pela antiga sociedade agrária sobre o crescimento e inovação. Ao rei foi pedido que fizesse uma legislação contra o casamento de pobres, para evitar que as pessoas tivessem mais filhos do que poderiam cuidar. (Nessa época o Alþingi ainda era uma assembleia consultiva.) Mas as autoridades dinamarquesas se recusaram a passar tal lei. Mais tarde, após o parlamento obter poderes legislativos, leis foram decretadas e receberam consentimento real, que impunham os mais estritos controles já vistos sobre o direito de estabelecer um lar, sem nenhuma criação de animais, no litoral. Os líderes da classe fazendeira, os apoiadores mais leais de Jón Sigurðsson na campanha da nação pela independência, mostraram pouco interesse na liberdade daqueles que estavam abaixo deles na escala social. Por outro lado, as restrições sobre a liberdade econômica dos trabalhadores foram gradualmente aliviadas; em 1894, a obrigação dos trabalhadores a se atrelarem a contratos anuais foi na prática abolida.
(Nada deixava os maiores proprietários de terra da Islândia tão irritados quanto o aumento do número de pobres na sociedade.)
Os problemas da sociedade rural, é claro, não foram solucionados pelas restrições, mas sim por oferecer às pessoas modos de saírem de suas situações. Essas saídas foram de dois tipos principais no século 19: emigração para a América, e migração para os vilarejos pesqueiros no litoral.
A onda de emigração que levou 50 milhões de europeus para a América entre 1815 e 1914 incluiu em torno de 15 mil islandeses, se contarmos somente aqueles que nunca mais voltaram para a Islândia. Esse número representava 20% da população, no período da maior emigração. Essa é uma proporção muito menor do que aquela que emigrou da Irlanda e Noruega, similar à da Suécia, mas muito superior do que a proporção de emigrantes da Dinamarca e da maioria dos países europeus.
(Cartão-postal que demonstra a chegada dos primeiros colonos islandeses ao Canadá, em 1875.)
A onda de emigração chegou à Islândia um pouco tarde. Logo após a metade do século 19 alguns mórmons islandeses emigraram para Utah, e nos anos subsequentes alguns indivíduos e pequenos grupos foram para os Estados Unidos. Um grupo de mais ou menos 30 pessoas emigrou para o Brasil em 1873. Naquele mesmo ano, a emigração em massa para a América do Norte começou com a partida de pouco mais de 300 pessoas do norte da Islândia. O pico de emigração ocorreu nos anos 1880. No período de seis anos compreendido entre 1883 e 1888, mais de cinco mil pessoas fugiram das piores ondas do período de frio que atingiu a Islândia na segunda metade do século 19. Com uma pequena ajuda de uma epidemia de sarampo em 1882, essa emigração se tornou o último período de queda no número da população da história da Islândia; em 1880, os islandeses eram 72.500, mas em 1890, um pouco menos de 71 mil. Em torno de 1890 as condições climáticas começaram a melhorar novamente, e os islandeses se tornaram mais otimistas sobre suas perspectivas de vida em seu país. Nos anos 1890 a emigração foi muito reduzida, e ela não atingiria os níveis anteriores mais. No período de 1906 a 1914, o número de emigrantes registrados excederam 100 em somente um ano. As pessoas estavam começando a ver um potencial na mecanização da indústria pesqueira.
(Uma cabana de troncos na Nova Islândia, do tipo que era construída pelos colonos - talvez uma cabine dos colonos originais. Os severos invernos canadenses foram um choque para os imigrantes islandeses.)
Proporcionalmente, o maior número de emigrantes saiu do norte e leste da Islândia. A parte leste teve grande crescimento de população nos anos bons do meio século e de antes. Nos anos 1880, as condições ruins tiveram um impacto maior no norte do que no resto do país.
A emigração da Islândia possuía duas características não usuais. Por um lado, a maioria dos emigrantes não foram para os Estados Unidos, e sim para o Canadá. Na época que a emigração da Islândia começou, o governo canadense estava ativamente encorajando a imigração, utilizando agentes que organizavam a viagem para os emigrantes, e ofereciam terras para fazendas gratuitamente. A maioria dos emigrantes islandeses pretendia trabalhar na lavoura, então eles acharam essa ideia tentadora. Na província de Manitoba, no Canadá, uma extensão de terreno na margem oeste do Lago Winnipeg foi separada para os islandeses e chamada de Nova Islândia. Os islandeses deveriam governar a si próprios, e poderiam continuar a utilizar o islandês como sua língua oficial. Mas a terra não era boa para o cultivo, e um pouco distante estava a cidade de Winnipeg, ao sul da Nova Islândia, onde estava a principal comunidade islandesa na América. Consideráveis atividades culturais em língua islandesa aconteceram lá por muito tempo, incluindo a publicação de dois jornais semanais e muitos livros.
(Foto: o vilarejo de Gimli - a Nova Islândia - em Manitoba, Canadá, no século 19.)
Outra característica da emigração islandesa era a grande proporção de mulheres. Dos outros países, a imensa maioria dos emigrantes eram homens, mas um pouco mais da metade dos emigrantes da Islândia eram mulheres. Isso se dava pelo fato de que as mulheres eram maioria na Islândia, por uma margem maior do que a usual (110,7 mulheres para cada 100 homens em 1870). Um fator mais importante, entretanto, é o de que os islandeses emigravam, em sua maioria, em famílias, e isso pode refletir a proximidade dos laços familiares em uma sociedade rural, e também porque as mulheres islandesas tinham poucas oportunidades de trabalho nas áreas urbanas em seu próprio país.
Em 1870, em torno de 2 mil pessoas viviam em Reykjavík, umas 500 em Akureyri, no norte, e um número similar em Ísafjörður nos Fiordes do Oeste. Outros centros urbanos eram ainda menores. Por volta de 1890 somente em torno de 9 mil pessoas, 13% da população, viviam em comunidades com 50 ou mais pessoas. Em 1904 o número de cidadãos urbanos havia crescido para 20 mil, um quarto da população. O crescimento se deu em grande parte por dois fatores: aquecimento do comércio e o uso de escunas com deques para pesca.
(Pessoas de Þingeyjarsýsla, norte da Islândia, visitando o centro comercial da cidade no início do século 20. À esquerda está o mais antigo dos prédios da Cooperativa, construído em 1883. Sobre ele está construído outro prédio da Cooperativa, de 1902.)
Na primeira metade do século 19, o comércio exterior da Islândia estava confinado aos sujeitos ao rei da Dinamarca, e em grande parte estavam nas mãos de comerciantes dinamarqueses. O comércio doméstico acontecia em grande parte por trocas pessoais entre fazendeiros e aqueles que viviam da pesca. Em 1855 o Comércio Livre foi permitido para todas as nacionalidades. Este fato não alterou muita coisa até por volta de 1870, quando os britânicos começaram a comprar ovelhas, para serem mortas na Grã-Bretanha. Essas exportações se provariam cruciais para os islandeses ganharem controle do comércio internacional.
Antes disso, os fazendeiros islandeses haviam começado a formar organizações para influenciar o comércio. Em torno de 1870 eles começaram com tentativas para tomar o comércio, fundando grandes corporações e abrindo lojas em centros comerciais. Todas essas empresas duraram pouco tempo, com exceção da mais antiga, Gránufélagið, fundada e gerenciada pelo pioneiro empreendedor Tryggvi Gunnarsson. Mas na prática essa companhia logo teve sua propriedade revertida para seus credores dinamarqueses. Em Suður-Þingeyjarsýsla um início mais cauteloso foi tomado. Em 1882 uma companhia foi formada, chamada Companhia de Compras de Þingeyjarsýsla (Kaupfélag Þingeyinga), com a função de lidar de forma coletiva com os compradores de ovelhas britânicos. Logo a companhia estava exportando ovelhas por conta própria, e comprando itens britânicos em retorno. Os fazendeiros de Þingeyjarsýsla então notaram que, sem perceberem, haviam fundado uma cooperativa. Essa companhia de compras, ou cooperativa, foi a primeira de uma rede de cooperativas a qual se tornou tão bem estabelecida que sobreviveu ao final das exportações de ovelhas em torno de 1900. No século 20 a Federação de Sociedades Cooperativas Islandesa, juntamente com suas subsidiárias, cresceu até se tornar o maior empreendimento comercial na economia islandesa, até seu colapso em 1980.
(Reykjavík em torno de 1900. Nessa época, os navios tinham que ancorar longe da costa. Somente com a construção do porto, entre 1913 e 1917, grandes navios puderam ancorar na capital da Islândia.)
Os negócios dos comerciantes islandeses também cresceu muitas vezes nas últimas três décadas do século 19. Em 1904, a maior parte do comércio internacional estava nas mãos dos islandeses, e era três vezes maior do que em 1870.
A expansão do comércio aconteceu em grande parte devido ao crescimento da pesca, o que, por sua vez, era um resultado do fato que os islandeses estavam agora utilizando escunas para a pesca, que podiam ficar em alto mar por dias ou até mesmo semanas por vez, e que seguiam as migrações sazonais dos peixes no entorno da costa da Islândia. Em meados do século 19, em torno de 20 escunas operavam da Islândia. Em 1904 elas eram 160, algumas delas com até 90 toneladas. Elas estavam, entretanto, longe de superar os antigos barcos abertos, os quais ainda capturavam um terço a mais de peixe do que as escunas.
Escunas fechadas não eram um avanço tecnológico tão grande assim. Elas eram similares aos navios que os ingleses costumavam utilizar para pescar em águas islandesas há tanto tempo quanto o século 15. Os aparatos de pesca também eram primitivos, em grande parte redes manuais. Mas o advento das escunas trouxe uma nova era no sentido de que essa era a primeira vez que o emprego era provido por grandes empreendimentos privados baseados em centros urbanos. O mercador Ásgeir Ásgeirsson de Ísafjörður, por exemplo, possuía 16 escunas, com 220 membros de tripulação. A pesca com escunas foi então o primeiro estágio do capitalismo na Islândia.