Cultura | Islândia Brasil


CULTURA

Séculos de isolamento e dificuldades e uma pequena, homogênea população deu aos islandeses traços peculiares de caráter. A Islândia é uma nação muito coesa de pouco mais de 300 mil habitantes, onde todos parecem se conhecer ou ser parentes distantes um do outro: os laços familiares são extremamente importantes.

Como seria de se esperar de um povo vivendo em uma ilha remota em um meio ambiente difícil, os islandeses são individualistas e autoconfiantes que não gostam de ser mandados sobre o que devem ou não fazer. O debate atual sobre a caça às baleias é o melhor exemplo. Apesar de a maioria dos islandeses sequer sonhar em comer carne de baleia, a maioria apoia a caça – é um modo de silenciar o exterior que quer mandar no que eles podem fazer.

A mentalidade islandesa


Os islandeses têm uma reputação de serem difíceis e destemidos, e é verdade que as comunidades rurais estão primariamente envolvidas com a pesca ou com suas fazendas. Mas não pense que eles são caipiras mal-educados. A Islândia sempre teve uma herança cultural rica e uma taxa de alfabetização enorme, e sua população possui uma grande paixão por tudo que é relacionado às artes. Esse entusiasmo artístico pode ser visto em todo o país, mas é mais proeminente no centro de Reykjavík. Apesar de as pessoas adotarem uma atitude de fatalismo cool, coloque-as em um local de algo que elas gostam e todo o pessimismo some de repente. A maioria dos jovens islandeses toca em uma banda, se aventuram pelas artes, ou escrevem poesia e prosa – eles são explosivos (positivamente) com impulsos criativos.

Essa atitude alegre e confiante sofreu um sério baque com a recente crise econômica. Muitos jovens de Reykjavík tristemente reclamaram que não havia sobrado nada para eles na Islândia: o país era muito pequeno, eles haviam experimentado tudo que havia para experimentar, e a única opção era emigrar. O colapso financeiro fez desse aperto uma realidade – durante o ano de 2009 (ano subsequente à crise na Islândia), houve um aumento de 1,6% na emigração, com um número significativo de jovens deixando o país para encontrar trabalho na Noruega.

Mas não se engane – o orgulho deles pode ter sofrido um revés, mas os islandeses são discreta e legitimamente patriotas. Os islandeses que alcançam sucesso internacional (a cantora Björk, a banda Sigur Rós, o romancista Halldór Laxness, o jogador de futebol Eiður Gudjohnsson), trazendo honra e prestígio para sua pátria, se tornam heróis. E não é coincidência que a Icelandair diz um grande "Bem-vindo ao lar" quando o avião pousa em Reykjavík (foto acima).

O modo como as cidades são desenvolvidas, a ex-base militar dos Estados Unidos, a popularidade de programas de televisão como Desperate Housewives, Lost e The Wire, e a prevalência de cachorros-quentes e Coca-Cola apontam para uma grande influência americana, mas os islandeses consideram seu relacionamento com o resto da Escandinávia mais importante.

De fato, eles têm muito em comum, apesar de que os islandeses não são tão reservados quanto os outros escandinavos na Suécia, Noruega e Finlândia. Eles são curiosos sobre os visitantes e são loucos pra saber o que os estrangeiros pensam deles. "Está gostando da Islândia?" é sem dúvida uma das primeiras perguntas. Apesar de os islandeses falarem inglês muito bem, eles são muito orgulhosos de seu idioma, e cumprimentá-los em islandês bem pronunciado resultará em um olhar de surpresa (quase choque) seguido por um largo sorriso.

Apesar de os islandeses serem normalmente bem reservados e estoicos, uma transformação completa ocorre quando eles fazem festa. Nas noites de sexta e sábado, todas as inibições somem, e a conversa flui tanto quanto o álcool.

Os islandeses não se preocupam muito com cerimonial, mas algumas regras devem ser observadas para você ter uma boa estadia com eles. É importante retirar seus calçados tão logo você entre em uma residência, e se você tiver a sorte grande de ser convidado para um jantar, é uma boa ideia levar um presente para seu anfitrião – uma garrafa de vinho estrangeiro geralmente é a recomendação. Para brindar, você deve dizer "skál!", e no final da refeição, "takk fyrir mig", mostrando seu apreço pelo dono da casa.

O Povo Escondido


O termo "Povo Escondido" (huldufólk) se aplica coletivamente à criaturas humanoides que vivem na Islândia, incluindo elfos, duendes, gnomos, trolls e outros seres sobrenaturais.

Quando os primeiros navios vikings chegaram na Islândia, cabeças de dragões foram removidas das proas para não incomodar os espíritos guardiões da terra. Esses espíritos são os ancestrais do povo escondido, que sempre foram fortemente identificados com as características da paisagem. O povo escondido foi sempre mencionado nas sagas escritas durante os primeiros séculos da colonização. Em grande parte, se tornaram um fenômeno folclórico paralelo à fé cristã, até mesmo algumas vezes sendo incorporados nos ritos cristãos. Em um exemplo, Eva estava dando banho em seus filhos, preparando-os para encontrar com Deus. Deus chegou mais cedo do que o esperado, então ela manteve as crianças que ainda estavam sem banho escondidas, e Deus achou adequado mantê-las escondidas para sempre.

Elfos

De todas as espécies de povo escondido da Islândia, os elfos são, sem dúvida, os mais numerosos e proeminentes. Na verdade, muitas lendas folclóricas do século 19 utilizam a palavra "elfos" e também "povo escondido" alternadamente. A maioria dos elfos se parece com seres humanos, e são frequentemente confundidos com humanos, apesar de alguns serem muito pequenos para causar confusão. (Alguns poucos são pequenos o bastante para viver dentro de flores.) Geralmente os elfos são bonitos, e se vestem de modo rústico à moda do início do século 20, algumas vezes com chapéus pontudos. Os elfos homens são artesãos habilidosos e frequentemente trabalham como fazendeiros ou ferreiros.

Os elfos protegem suas casas a todo custo, que normalmente são dentro de rochas, colinas e penhascos, ou às vezes em poços ou correntes d’água subterrâneas. As pessoas que entraram na casa dos elfos acabaram por nunca mais deixar o mundo escondido. Apesar de os elfos serem muito perigosos, especialmente se a casa deles for mexida, eles frequentemente trocam favores e são de palavra. Mulheres élficas já apareceram repentinamente para ajudar mulheres humanas com dificuldades no parto. Em contrapartida, sabe-se que os elfos roubam bebês humanos à noite, substituindo-os por um bebê elfo. Para prevenir isso de acontecer, as mães islandesas fazem um sinal da cruz tanto em cima quanto embaixo de seus bebês após colocá-los no berço.

Trolls

Os trolls chegaram à Islândia como passageiros clandestinos nos navios viking e se estabeleceram em esconderijos da paisagem islandesa, fazendo suas casas em cavernas e penhascos. Seus navios são feitos de pedra, e eles conseguem pescar sem linha ou isca.

A maioria dos trolls não aparece à luz do dia, senão eles próprios se transformam em pedra.

Para os islandeses, os trolls são difíceis, ameaçadores, feios, e na maior parte do tempo solitários – tudo menos bonitos. É melhor não cruzar o caminho de um deles, apesar de que eles manterão sua palavra se você conseguir chegar a um acordo. Os trolls que vivem em penhascos onde há ninho de aves são uma grande ameaça para quem coleta ovos. Em caso de emergência, o Cristianismo pode ajudar a espantar os trolls. Os trolls não sobreviveram tão bem na época moderna quanto os elfos. Na verdade, muita gente pensa que estão extintos.

Os elfos e a Islândia moderna

Em pesquisas, somente 20% dos islandeses descartam a existência dos elfos. Projetos de construção ainda podem ser suspensos por temores de incômodo a uma casa de elfos. Em 1996, quando um terreno foi preparado para um cemitério em Reykjavík, dois tratores que estavam planificando uma suposta colina dos elfos misteriosamente quebraram. Especialistas em elfos foram chamados. "Nós vamos ver se conseguimos chegar a um acordo com os elfos", disse o supervisor do projeto ao jornal diário islandês Morgunblaðið.

Muitos islandeses estão cansados de responder se eles realmente acreditam em elfos, porque eles não podem dar uma simples resposta "sim" ou "não". Dizer que "sim" não quer dizer que eles acreditem, no sentido mais literal, que pessoas pequenas emergem de pedras e dançam a noite toda. E dizer "não" não significa que eles descartam todos os conceitos e fenômenos sobrenaturais.

Os islandeses, por necessidade, sempre estiveram muito conectados ao seu estranho e rigoroso ambiente. Passe muito tempo no longo crepúsculo islandês – que prega peças com seus olhos – e você entenderá o porquê de eles não descartarem qualquer hipótese.

Caça às baleias


Os islandeses consideram a caça às baleias um assunto sensível. Meramente mencionar o assunto pode provocar um discurso passional sobre como a Islândia é injustamente demonizada pelo mundo exterior, hipócrita e que se faz de santo.

Em 1986, a Comissão Baleeira Internacional (IWC) – uma organização formada em 1946 para promover a cooperação entre nações que caçavam baleias – ordenou uma moratória na caça comercial às baleias. A moratória não tinha autoridade legal, mas a Islândia retirou sua associação à IWC em protesto. A Islândia se reintegrou ao grupo em 2002, mas dois anos depois voltou a caçar baleias sob o argumento que seriam para pesquisa científica. Isso significou que estudos foram feitos no conteúdo estomacal das baleias – e as implicações delas para os estoques de peixe – antes de a carne ser vendida. Em 2006 a Islândia dispensou a desculpa da ciência e estabeleceu uma cota de pesca de baleia anual, desafiando abertamente a moratória.

Os que apoiam a caça apontam que as baleias-de-minke, que compões a vasta maioria do número de espécimes abatidos, possuem uma população mundial de 900 mil indivíduos e não são uma espécie em perigo de extinção. As provas demonstram que as baleias-de-minke reduzem o abastecimento de peixe, especialmente do bacalhau, que sozinho representa até 20% da renda de exportações da Islândia.

Os islandeses caçaram baleias por mais de 300 anos, e consideram a caça parte de sua herança cultural. Desde a época da colonização, baleias encalhadas nas praias eram um recurso tão precioso que a palavra islandesa para baleia encalhada, hvalreki, também significa "herança inesperada" ou "enviado por deus". Os islandeses também sentem que eles já lutaram tempo demais e duro demais pelo controle de suas águas territorias para deixar que estrangeiros digam o que devem fazer novamente. Leia aqui mais sobre a soberania da Islândia no mar, uma longa batalha ocorrida no século 20.

Os contrários enfatizam os detalhes cruéis da caça às baleias; do primeiro tiro de arpão, essas criaturas nobres e inteligentes demoram até uma hora para morrer. As baleias podem competir com os pescadores pelo bacalhau, mas a caça provê somente alguns poucos postos de trabalho temporários, e a demanda pela carne de baleia é baixa. Os turistas têm demonstrado algum interesse, mas a maioria dos islandeses raramente come baleia. A carne de baleia custa menos que frango nos supermercados islandeses, e frequentemente termina sendo comida para os animais. O principal cliente externo, o Japão, tem se preocupado com as toxinas encontradas na carne de baleia do Atlântico Norte. Recentemente, a carne vem sido vendida no Aeroporto Internacional de Keflavík para os turistas que embarcam de volta aos seus países. O problema é que em vários países trazer carne de baleia é ilegal.

Desde que a Islândia voltou com a caça, o Greenpeace liderou um boicote turístico. Dentro da Islândia, entretanto, a maioria dos ativistas contra a caça prefere que os turistas embarquem em passeios para avistar baleias. Décadas atrás, ônibus turísticos percorriam um trajeto de uma hora de Reykjavík até Hvalfjörður para ver baleias sendo fatiadas e processadas. Nos dias de hoje, cem mil turistas embarcam nos passeios de observação de baleias – vivas – por ano.

O resgate dos puffins


Com seus bicos e pés laranja, com corpinhos de 18 centímetros, vestidos com smoking, e olhos tristes de palhaço, os puffins são um consenso por serem uma das criaturas mais fofinhas do mundo. Sua velocidade, enquanto voa, atinge até 80 km/h, mas ainda assim eles continuam batendo as asas freneticamente, como um personagem de desenho animado prestes a cair, sacudindo os braços. Durante séculos, os islandeses têm caçado os puffins, levando ao ar uma rede similar a de caçar borboletas, em cima das beiradas dos penhascos, para poder pegá-los enquanto voam. A maioria dos puffins procria na Islândia, e o arquipélago de Vestmannaeyjar possui a maior colônia deles.

Os puffins são normalmente monogâmicos por toda a vida, e – a menos que terminem em uma mesa de jantar – possuem um tempo médio de vida de 25 anos. Eles normalmente retornam para o mesmo local de procriação, se não a mesma toca no mesmo penhasco, e as fêmeas colocam dois ovos por ano, mas somente um de cada vez. Os filhotes de puffin eclodem após 42 dias, e ambos os pais buscam peixe para ele. Em meados de agosto os pais abandonam o ninho, e os filhotes têm que se virar sozinhos.

No final de agosto, centenas de filhotes famintos são atraídos e desorientados pelas luzes da cidade de Vestmannaeyjabær, a única do arquipélago, e acabam por bater e caem nos jardins e ruas. Os moradores trancam seus gatos dentro de casa, mas deixam suas crianças ficarem acordadas até tarde para que elas recolham os filhotes e os coloquem em caixinhas forradas com panos macios. Os filhotes ficam na casa das famílias à noite. Na manhã seguinte, as crianças levam os puffins para o mar e os libertam, jogando-os ao ar. Famílias de turistas são muito bem-vindas para participarem da tradição.

O nome das pessoas


Os nomes dos islandeses são construídos a partir de uma combinação de seus nomes e do primeiro nome de seu pai (ou, mais raramente, de sua mãe). As meninas têm o sufixo dóttir (filha) adicionado ao patronímico e os filhos adicionam son. Desse modo, Ólafur, o filho de Jón, se chamará Ólafur Jónsson. Sigríður, a filha de Jón, será Sigríður Jónsdóttir.

Pelo fato de os "sobrenomes" islandeses somente dizerem às pessoas qual o nome do pai delas, os islandeses não se importam com, por exemplo, chamar alguém de "Sr. Einarsson" ou "Sra. Einarsdóttir". Ao invés disso, eles utilizam os primeiros nomes, mesmo quando falando com estranhos. É o componente perfeito para uma sociedade tão democrática quanto a Islândia, o fato de poder chamar até mesmo o presidente da república pelo primeiro nome!

Em torno de 10% dos islandeses possuem nomes de família (a maioria deles datando dos primórdios da época da colonização), mas eles são raramente usados. Em uma tentativa de homogeneizar o sistema, uma lei proíbe qualquer pessoa de ter um novo nome de família ou adotar o nome de família do cônjuge.

Há também uma lista oficial de nomes que os islandeses podem dar para seus filhos. Qualquer nova adição a essa lista precisa passar pelo Comitê Islandês de Nomes antes que você possa dar o nome em questão para seu filho – então na Islândia você nunca verá um nome absurdo fora do padrão, como ocorre no Brasil. O interessante é que há uma superstição persistente sobre dar um nome ao seu recém-nascido: o nome do bebê normalmente não é revelado até o batismo, que pode acontecer até vários meses após a criança nascer.

Até recentemente, imigrantes estrangeiros tinham que dar a si próprios nomes islandeses antes de poderem se tornar cidadãos. Entretanto, nos dias de hoje, o Comitê não se importa mais com isso e os estrangeiros podem permanecer com seus nomes originais.

Mídia


Jornais e revistas

Os principais jornais da Islândia são publicados somente em islandês. O mais vendido, Morgunblaðið, é moderadamente de direita, mas os islandeses levam os jornalistas mais a sério do que levam seus políticos. Para notícias da Islândia em inglês, leia o site da revista Iceland Review, que é atualizado todos os dias e possui a opção de enviar as notícias para sua caixa de e-mail. A revista física sai algumas vezes por ano, e assinaturas são aceitas de todos os países. Ela possui ótimos artigos leves sobre o povo islandês, cultura, história e natureza.

Uma ótima leitura de notícias islandesas, opiniões, críticas e o que está acontecendo em Reykjavík é o jornal Grapevine, em inglês, distribuído gratuitamente em vários pontos da cidade durante o verão (junho a agosto). Os editores escrevem longas páginas sem medo sobre vários tópicos delicados da Islândia, mas tudo é feito com humor e com um estilo de escrita despojado. Disponível principalmente no Centro de Informações Turísticas, hotéis e bares da capital.

TV e rádio

Até 1988, a Islândia possuía somente um canal de televisão estatal – que saía do ar às quintas-feiras, de modo que os cidadãos pudessem fazer algo mais saudável ao invés de assistir à televisão (diz-se por lá que a maioria das crianças nascidas antes de 1988 foram concebidas em uma quinta-feira...). Hoje existem três canais e eles transmitem às quintas-feiras. Então agora você tem uma opção.

A televisão e o rádio são mais para entretenimento do que para esclarecimento, apesar de que o noticiário noturno da Ríkisútvarpið (RÚV; Serviço de Transmissão Nacional Islandês) é o segundo programa mais assistido do país. Se você estiver perto de uma televisão no sábado à noite, veja o programa preferido islandês – a comédia satírica de assuntos atuais Spaugstofan, que está no ar há mais de 20 anos e é assistido por metade do país. Grande parte da programação, em especial às noites, vem dos Estados Unidos e do Reino Unido – em inglês, com legendas em islandês.

Um programa de televisão islandês ganhador de prêmios que você já deve ter visto, especialmente se você tem crianças, é o violentamente colorido Latibær (Lazy Town), que por aqui no Brasil passa no Discovery Kids.

Religião


Nórdica

A religião original na Islândia nos tempos da Colonização era a Ásatrú, que significa "fé nos Aesir (os antigos deuses nórdicos)". Era a religião ancestral da maior parte dos povos germânicos e também aparece tão longe quanto na Índia. O texto medieval islandês, o Galdrabók, revela que as pessoas adoravam os Aesir muito antes de o Cristianismo ser adotado no norte da Europa.

Existiam muitos deuses no panteão, mas Þór (Thor), Óðinn e Freyr eram a trindade principal adorada por toda a Escandinávia. A religião também é ligada fortemente a uma reverência pelo mundo natural.

Óðinn, o deus da guerra e poesia, possui a mais alta deificação, sendo comandante dos deuses, e uma presença forte e intimidadora. Ele influencia nas batalhas e dá talento literário àqueles que se provam merecedores.

Livres da guerra, o povo da Islândia foi mais devoto de Þór (e ainda há muita gente na Islândia com nomes como Þórir, Þórdís e Þóra). Esse deus, gigante e protetor das pessoas comuns controlava o trovão, o vento, as tempestades e desastres naturais, então ele era uma deidade vital para os fazendeiros e pescadores terem ao seu lado. Ele é representado como um homem corpulento, de cabelos e barbas ruivos.

Freyr e sua irmã gêmea Freyja, os filhos do deus do mar Njörður, serviam como deus e deusa da fertilidade e sexualidade. Freyr era aquele que trazia a primavera, com suas implicações românticas, tanto para humanos quanto para o mundo animal, e estava a cargo da perpetuação das espécies.

Os islandeses se converteram pacificamente ao Cristianismo há mais de mil anos, mas os antigos deuses estão sendo relembrados. A religião Ásatrú evoluiu na década de 1970, quase que simultaneamente na Islândia, nos Estados Unidos e no Reino Unido. O fazendeiro-poeta e alto clérigo Sveinbjörn Beinteinsson conseguiu que a Íslenska Ásartrúarfélagið fosse reconhecida pelo governo islandês bem cedo, em 1973.

Os dois principais rituais da Ásatrú são o blót (sacrifício) e o sumbel (brinde). Os sacrifícios dos dias de hoje, que acontecem nos solstícios de inverno e verão, no primeiro dia de inverno e verão, e no Þorrablót, são normalmente bebidas feitas com hidromel, cerveja ou cidra. O sumbel é um brinde ritualizado composto de três partes: o primeiro é feito para o deus Óðinn (é também sábio dar algumas gotas para Loki, o trapaceiro, para evitar surpresas desagradáveis); a segunda leva é para os ancestrais e para os honoráveis mortos; e o terceiro brinde é para qualquer pessoa que cada um quiser honrar.

À medida que o número de membros das outras religiões na Islândia tem se mantido constante, a Ásatrúarfélagið está crescendo e hoje possui em torno de 1.300 membros registrados e oito clérigos (cinco dos quais podem comandar cerimônias de casamento). É a maior organização religiosa não-cristã da Islândia. Em 2008, a sociedade comprou um lote de terra na Colina Öskjuhlíð em Reykjavík, onde planejavam construir seu primeiro templo, mas a crise econômica ainda naquele ano acabou por colocar os planos no gelo.

Cristianismo

Tradicionalmente, a data do decreto que converteu oficialmente a Islândia ao Cristianismo foi dada como sendo o ano 1000, mas pesquisas determinaram que o fato provavelmente ocorreu em 999. O que se sabe é que a mudança de religiões foi uma decisão política. No Alþingi islandês (parlamento), cristãos e pagãos tinham formado facções polarizadas e radicais, ameaçando dividir o país. Þorgeir, o lögsögumaður (orador da lei), apelou para moderação de ambos os lados, e no final das contas conseguiu-se a concordância de que o Cristianismo iria se tornar a nova religião, apesar de os pagãos poderem praticar seus ritos em particular. Hoje, assim como na Escandinávia continental, a maioria dos islandeses (em torno de 79%) pertencem à Igreja Protestante Luterana.

Música


Pop

Músicos islandeses internacionalmente famosos incluem (é claro) Björk. Em Reykjavík, procure pelo álbum muito vendido Gling Gló, uma coleção de músicas de jazz cantadas por Björk e músicas tradicionais islandesas, é muito difícil de encontrar fora do país. O Sigur Rós está seguindo o caminho de Björk ao estrelato com seu som estranho e etéreo; seu álbum mais vendido, Takk (2005) recebeu críticas excelentes em todo o mundo. Seguiu-se a ele o mais acessível Með suð í eyrum við spilum endalaust (2007) e a banda lançou em 2012 seu mais novo álbum, que conseguiu vendas iniciais muito boas, denominado Valtari. Você também pode conhecer Emiliana Torrini, a cantora ítalo-islandesa que cantou a assustadora "Gollum’s Song" em O Senhor dos Anéis: As Duas Torres.

De volta à Islândia, o cenário musical de Reykjavík continua a florescer – às vezes até parece que a cidade inteira age como uma máquina louca produzindo música, com todos os habitantes com menos de 30 anos tocando algum instrumento ou cantando em uma banda. (Algo para ser feito naquelas longas, intermináveis noites de inverno?) Um redemoinho de músicos girando tocam em shows, gravam álbuns, fazem carreira solo e se integram novamente às bandas – acesse o icelandmusic.is para ter uma ideia da variedade musical islandesa.

Esse line-up em constante mudança de novas bandas e sons faz o trabalho de definir o cenário musical um tanto quanto difícil. Atualmente, as mais populares são o FM Belfast (que montaram seu próprio selo para lançarem seu primeiro álbum, How to Make Friends); Singapore Sling (seu quarto álbum neo-psicodélico, com o alegre título de Perversity, Desperation and Death, foi lançado em 2009); Leaves (chamados de 'o novo Radiohead' pela revista britânica NME); Trabant (que se descrevem como sendo 'Monty Python encontra Thomas Dolby'); Mugison (canções introspectivas mas marcantes de um homem sozinho com seu violão); Múm (música eletrônica misturada com instrumentos reais); Mínus (cujas guitarras que gritam já abriram shows do Foo Fighters e do Metallica); Hafdís Huld (popstress feminino); e duas novas bandas: Sykur (electropop, uma nova sensação no país) e Reykjavík! (vários estilos diferentes de pop-rock). Também procure por My Summer as a Salvation Soldier, músicas acústicas significativas do cantor Þórir. Abaixo confira um vídeo da banda Reykjavík!, que mostra um voo entre a capital da Islândia e a cidade de Ísafjörður.

Várias dessas bandas foram trazidas ao conhecimento do público mais amplo através do documentário musical Screaming Masterpiece (2005), que contém momentos pretensiosos mas vale a pena ser visto para se ter uma ideia da diversidade da música islandesa.

Os locais para música em Reykjavík estão sempre mudando. Por exemplo, a casa noturna mais estabelecida e conhecida da cidade, o NASA, fechou as portas em junho de 2012. Verifique no jornal Grapevine quais são as novidades. Como os islandeses são fanáticos por computadores e internet, muitos espalham sua música pela rede por redes sociais tais como o MySpace.

O melhor festival de música da Islândia é o Airwaves (que acontece em Reykjavík em outubro), que mostra a nata do talento islandês em conjunto com bandas e outros artistas internacionais.

Música tradicional

Até a chegada do rock 'n roll no século 20, a Islândia era uma terra praticamente desprovida de instrumentos musicais. Os vikings trouxeram a fiðla e o langspil com eles da Escandinávia – ambos uma espécie de caixa com duas cordas que repousava no joelho de quem estivesse tocando e eram tocados com um arco. Eles nunca eram instrumentos solo, mas serviam meramente para acompanhar os cantores, assim como ocorreu depois com os poucos órgãos de igreja que apareceram no século 19.

Não é de se espantar que, em um país que esteve permanentemente à beira da fome, que instrumentos musicais eram um luxo que a maioria das pessoas sequer tinha ouvido falar, e que o canto era a única música conhecida. Os estilos musicais mais conhecidos são o rímur, que se consiste em poesias ou histórias das sagas apresentadas em um canto baixo e misterioso (a banda Sigur Rós trabalhou bem esse gênero), e fimmundasöngur, cantado por duas pessoas em harmonia. Sem sofrer nenhuma outra influência, o estilo de canto islandês quase não mudou desde o século 14 até o 20; ele também conseguiu manter harmonias que eram proibidas pela igreja em toda a Europa por serem trabalho do demônio!

A Islândia possui centenas de cantigas tradicionais que a maioria dos islandeses aprendem antes da idade escolar, e ainda estão cantando com afinco até sua idade mais velha. Elas são desenterradas em todas as ocasiões que as diferentes gerações se encontram: festas de família, excursões, acampamentos. Sem dúvida a favorita (que você ouvirá exaustivamente) é Á Sprengisandi, uma música de caubóis sobre criadores de ovelhas e pessoas banidas da sociedade no deserto interior. Veja no vídeo abaixo essa música, a mais conhecida do folclore islandês:

Cinema


A indústria islandesa do cinema é jovem – a produção regular de filmes começou somente nos anos 1980 – mas já entregou trabalhos bem distintos até hoje. Os curtas-metragens islandeses, em particular, já receberam todos os tipos de prêmios estrangeiros. Longas-metragens são mais raros, mas eles frequentemente contêm aquele tom sombrio e fotografia maravilhosa, utilizando a poderosa paisagem islandesa como cenário.

Pode-se dizer que o maior "clássico" de todos os tempos do cinema islandês é Hrafninn Flýgur (Quando o Corvo Voa), de 1984. Rendeu duas continuações e até hoje passa nos cinemas em certos festivais islandeses. É cafona, certamente, mas muito divertido de se ver.

Em 1992, o filme que fez o mundo perceber a Islândia foi Filhos da Natureza, indicado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. No filme, um casal de idosos, forçado a ficar em uma casa de repouso em Reykjavík, vai passear no interior. O diretor do filme, Friðrik Þór Friðriksson, é algo perto de uma lenda nos círculos islandeses de cinema, apesar de alguns de seus filmes serem definitivamente melhores que outros. Á Köldum Klaka (1994), Englar Alheimsins (2000) e Sólskinsdrengurinn (2009) são os três que valem a pena serem vistos.

Ter muito sucesso em casa não necessariamente quer dizer sucesso internacional. Certos filmes foram sucessos estrondosos na Islândia, mas não são tão bem conhecidos fora do país. Esses incluem Íslenski Draumurinn ("O Sonho Islandês", 2000), um drama cômico sobre um homem cuja vida gira em torno do futebol; O Riso da Gaivota (Mávahlátur, 2001), que segue a vida de um grupo de mulheres em um vilarejo pesqueiro dos anos 1950; e Þetta Er Ekkert Mál (2006), uma biografia de Jón Páll Sigmarsson.

Se um filme com certeza colocou a Islândia, e especialmente Reykjavík, no cenário do cinema mundial, esse foi 101 Reykjavík (2000), dirigido por Baltasar Kormákur e baseado no romance de Hallgrímur Helgason. Essa comédia dark explora sexo, drogas e a vida de um preguiçoso no centro de Reykjavík. Os filmes subseqüentes de Kormákur não obtiveram tanto sucesso, apesar de A Cidade dos Vidros (2006) ter recebido lançamento fora internacional e boas críticas. Possui como estrela principal o onipresente Ingvar E. Sigurðsson como o detetive preferido da Islândia, inspetor Erlendur (leia mais sobre o inspetor Erlendur), e é um filme que merece ser visto.

Outro diretor islandês que obteve sucesso internacional é Dagur Kári, cujos filmes incluem Nói Albinói (2003), sobre um adolescente inquieto em uma pequena cidade de um fiorde do norte do país; e o filme em inglês O Bom Coração (The Good Heart), que recebeu ovação de pé em sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2009. Também tente ver Kaldaljós (Luz Fria; 2004), um filme lento sobre a vida em um fiorde isolado, com uma performance impressionante do menino pequeno no qual a história é centrada.

A imensa beleza da Islândia e o desconto de 20% de desconto no custo de produção concedido pelo governo para cineastas têm encorajado muitos diretores a fazerem seus filmes no país. Tente ver o cenário islandês em filmes muito conhecidos, como O Quinto Elemento (1997), Tomb Raider (2001), 007: Um Novo Dia Para Morrer (2002), Batman Begins (2005), A Conquista da Honra (2006), Stardust: O Mistério da Estrela (2007), Jornada ao Centro da Terra (2008) e Prometheus (2012).