Literatura | Islândia Brasil


LITERATURA

Sagas


Entre as grandes obras literárias da Europa medieval, as sagas islandesas retêm a maior importância e relação imediata com a nação que as produziu. A língua islandesa mudou muito pouco nos últimos mil anos e os islandeses dos dias de hoje conseguem compreender muito bem os textos originais. As sagas frequentemente estão nas listas de livros mais vendidos no país, e todos os alunos das escolas são obrigados a lê-las.

A maioria das sagas se origina dos anos compreendidos entre os séculos 12 e 14, mas relatam acontecimentos dos séculos 10 e 11, época quando os islandeses estavam testando o autogoverno e a transição para o Cristianismo. As sagas não têm correspondência com nenhum outro gênero literário contemporâneo, mas podem ser chamadas de romances históricos. A linha narrativa segue um padrão geral, no qual os conflitos sobem em escalada até uma luta sangrenta envolvendo várias gerações, e códigos pessoais de honra precisam ser conciliados com a manutenção da estrutura social (leitores que esperam histórias de belos cavaleiros resgatando donzelas de cabelos longos e lisos presas em castelos ficarão desapontados). O estilo narrativo é conciso e foca bastante na ação, com diálogo pouco frequente e quase nada do pensamento introspectivo que aparece tanto nos romances dos dias atuais. Ainda assim, as sagas dão a impressão de ser muito contemporâneas por sua profundidade de caracterização, intimidade com cenas domésticas, senso de ironia e humor bem desenvolvido e profunda compreensão da motivação psicológica.

Em torno de 40 sagas islandesas sobreviveram, a maioria escrita anonimamente. Existem três principais publicações fáceis de se achar. Em inglês, temos a The Sagas of Icelanders (Penguin, 2001) e a Eirik the Red and Other Icelandic Sagas (Oxford, 1999). No Brasil, há relativamente pouco tempo foi publicado o livro Sagas Islandesas (Hedra, 2009), que é somente a Saga dos Volsungos. Os volumes estrangeiros, para quem domina o inglês, são melhores. As coleções são ótimas, mas o leitor deve saber que são muito seletivas. Das seis sagas mais canonizadas – Egils Saga, Eyrbyggja Saga, Grettis Saga, Hrafnkels Saga, Laxdæla Saga e Njals Saga – a coleção da Penguin inclui a Egils Saga, Hrafnkels Saga e Laxdæla Saga, enquanto a coleção da Oxford possui apenas a Hrafnkels Saga.

Todas as sagas mais conhecidas estão em catálogo em volumes individuais (em inglês). Cada uma que você escolher pode depender de qual região da Islândia você planeja visitar: as Egils Saga, Eyrbyggja Saga e a Laxdæla Saga são ambientadas no oeste; Njáls Saga no sul; e a Hrafnkels Saga no leste. Grettir o Forte, o herói da Grettis Saga, passa os últimos anos de sua vida em Drangey, no noroeste. A Egils Saga é o assunto principal de uma das duas exposições do Settlement Center (Museu da Colonização), um excelente local na cidade de Borgarnes. A Njals Saga é considerada a maior realização literária de todas as sagas.

Ficção Moderna


A figura dominante da literatura islandesa moderna é Halldór Laxness, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1955. Sua obra mais reconhecida é o romance de 1934, Sjáfstætt Fólk (Gente Independente), uma história compassiva e cômica de um pobre fazendeiro e pastor de ovelhas determinado a viver desprendido de qualquer pessoa. Nenhum dos livros de Laxness está atualmente em catálogo em português no Brasil, porém versões em inglês podem ser encontradas ou encomendadas com facilidade. Heimsljós (World Light), de 1937, é a história de um poeta marginal de olhos cintilantes, um tipo de desvio feito para Laxness trabalhar os imperativos conflitantes entre a arte e o ativismo político. Íslandsklukkan (Iceland’s Bell), de 1943, explora a opressão colonial dinamarquesa da Islândia até o século 17, com a maioria de seus personagens baseada em figuras históricas reais. Átomstöðin (A Estação Atômica), de 1948, é uma sátira política mais direta que lida com assuntos que vieram à tona com a instalação da base da OTAN instalada na Islândia na época, comandada pelos Estados Unidos. Brekkukotsannáll (The Fish Can Sing), de 1957, é uma história da meia-idade do autor sobre a busca de um menino por um misterioso cantor de ópera. Paradísarheimt (Paradise Reclaimed), de 1960, se trata de um fazendeiro do século 19 que abandona sua família, emigra para o estado de Utah, repleto de mórmons e depois retorna para a Islândia como um missionário mórmon.

A Islândia produz mais romances per capita do que qualquer outro país, mas as traduções para outras línguas (até mesmo para o inglês) são poucas e infrequentes. Uma exceção notável é Djöflaeyjan (Devil’s Island), de Einar Kárason, primeiramente publicado em 1983. A história se ambienta nos anos 1950, em meio à uma amistosa comunidade de trabalhadores de Reykjavík com grande parcela de excêntricos e causadores de problemas. Foi adaptado para o cinema.

Atualmente o escritor mais popular da Islândia – tanto em seu país quanto no exterior – é Arnaldur Indriðason, cujos romances policiais têm como personagem central o detetive Erlendur Sveinsson, um divorciado de humor melancólico que passa suas noites lendo relatos de pessoas que se perderam pelo gelado deserto do interior islandês. Três de seus livros foram publicados em português no Brasil: A Cidade dos Vidros, O Silêncio do Túmulo e Vozes. Quase toda a série do detetive Erlendur já foi traduzida para o inglês. Em média, um novo livro é lançado por ano, inclusive aqui no Brasil, atualmente sendo publicados pela Companhia das Letras. Em 2005, Arnaldur ganhou o Golden Dagger Award no Reino Unido por O Silêncio do Túmulo.

Não-ficção


A Islândia era muito venerada na Inglaterra vitoriana, e as traduções das sagas feitas por William Morris eram leitura de cabeceira. Vários vitorianos escreveram estudos sobre a Islândia e diários de viagem, alguns dos quais foram republicados. Letters from High Lattitudes (Hard Press), pelo proeminente estadista e diplomata Lord Dufferin (1826-1902), conta a viagem do autor para a Islândia, e após Noruega e Svalbard. Um livro de 2000, chamado Frost on My Moustache: the Arctic Exploits of a Lord and a Loafer, de Tim Moore, é a história hilária das desventuras de Moore ao tentar refazer a trajetória de Dufferin. Iceland: Its Scenes and Sagas (Signal Books, 2007), pelo eclético acadêmico, romancista e colecionador de canções folclóricas Sabine Baring-Gould (1834-1924), é um relato magnífico de sua jornada de 1862 através da Islândia a cavalo, entrelaçado com reflexões aprendidas nas sagas. Ultima Thule; Or, a Summer in Iceland (Kessinger Publishing), escrito em 1875 pelo explorador e etnólogo Richard Francis Burton (1821-1890), é um retrato penetrante e igualmente erudito da sociedade islandesa.

Ring of Seasons: Iceland, Its Culture and History (University of Michigan Press, 2000) – por Terry G. Lacy, uma socióloga americana que viveu na Islândia desde os anos 1970 – é muito envolvente e reflexivo.

History of Iceland: From the Settlement to the Present Day, por Jón R. Hjálmarsson (Iceland Review Press, 1993), é um bom resumo em 200 páginas da história islandesa. Mas o melhor de todos, porém muito grande e detalhado, é History of Iceland (University of Minnesota Press), por Gunnar Karlsson. Há uma versão muito resumida à venda em alguns locais turísticos na Islândia, com fotos e gráficos coloridos, a um bom preço. Pode ser encontrado na rua principal, Laugavegur, e também em locais como o Parque Nacional Þingvellir. Para aqueles particularmente interessados no contexto das sagas islandesas, devem ler o livro de Jesse Byock, um estudo de autoridade, chamado Viking Age Iceland (Penguin, 2001).

Iceland: Land of the Sagas (Villard, 1990), é um livro de mesa, com 150 páginas divididas entre as fotografias evocativas de Jon Krakauer e as reflexões em forma de ensaios de David Roberts sobre a paisagem islandesa e sua herança literária. Iceland Saga (The Bodley Head, 1987) também leva o leitor em uma espécie de passeio literário, mas de uma perspectiva mais informada; o autor Magnús Magnússon traduziu ele mesmo muitas das sagas.